quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sul da Itália

Reportagem
Por Flávia Pegorin
Revista Viajar pelo Mundo
Edição 15 - Outubro/2010


Sul da Itália - Onde o mundo se encontra

Disputada e invadida por diversos povos no passado, a porção meridional do país de Da Vinci e Canavarro é hoje alvo certo de turistas do mundo todo



Se o norte italiano costuma ficar registrado na memória dos viajantes pela opulência, o luxo e a formalidade, o sul desse belo país é todo rusticidade. Mas no melhor dos sentidos, diga-se. A porção meridional da península exala o autêntico espírito italiano. Tanto Nápoles, no continente, como as grandes ilhas adiante, Sicília e Sardenha, fazem uma viagem valer a pena – e muito.

Dona de uma cozinha saborosa, que privilegia os frutos do mar, os queijos fortes e os vinhos doces - como o marsala -, essa região também encanta pelo que guarda do passado. Ruínas etruscas e resquícios da passagem dos vizinhos gregos e de dezenas de outros povos não faltam por lá. Isso gera um ar de mistério: afinal, quantos invasores já estiveram aqui? Quantos povos apreciaram o Mediterrâneo nas belas praias? Ninguém sabe ao certo. O sul da Itália foi alvo constante da cobiça de dezenas de nações: da enigmática civilização Osca, no Século V antes de Cristo, aos alemães na Segunda Guerra Mundial.

As paisagens são dominadas por um elemento em especial: il mare, como se diz por ali. O azul do Mediterrâneo e do vizinho Tirreno é inconfundível, e impossível de não notar. Até porque, a vida gira em torno deles quando se fala na culinária, claro, e também em outros aspectos, como nos transportes – já que as ilhas podem ser alcançadas por avião, mas também em longos e prazerosos percursos de ferryboat ou barcos alugados.


SARDENHA, A ILHA DA DIVERSÃO



Dizem os locais que nela o tempo corre mais devagar. Talvez isso aconteça porque, por muitos séculos, a Sardenha foi uma ilha esquecida, deixada de lado tanto pelos pacotes turísticos quanto nos periódicos com temática de viagem. Mas isso mudou, sabe? É verdade que essa “marcha lenta” ainda pode ser sentida na ilha localizada a 180 km da costa italiana, mas hoje o local - que já foi alvo de fenícios, romanos, árabes e espanhóis - é também destino de visitantes cheios de fama ou dinheiro (ou, mais provável, cheios dos dois).

Isso não é problema para os nativos, porque a Sardenha sempre foi um caldeirão aberto a todos mesmo. É comum ouvir não apenas o idioma italiano atual, mas uma dúzia de dialetos, incluindo o catalão e algumas línguas árabes mantidas pelos descendentes desses povos.

A história pode ser percebida também com os olhos, notando a quantidade de castelos, antigas aldeias, templos, túmulos e ruínas que pipocam pela ilha. As mais antigas remontam ao período pré-histórico e são chamadas nuragues – construções de formato cônico erguidas com imensas pedras de basalto que chegam a 7.000 e sobre as quais se sabe muito pouco. O mistério cerca o povo que os construiu. Quem quiser arriscar palpites pode visitá-los quase pela ilha toda, mas principalmente nas imediações de Sassari, ao norte, e Nuoro e Oristano, no centro.

Mas não só de passado vive esse recanto oceânico. A maioria das pessoas chega pela capital Cagliari, localizada bem ao sul. É nela que está o centro político da ilha, com seus 150 mil habitantes (que sobem para 400 mil se considerados os moradores da área metropolitana e cidades como Capoterra e Assemini).

Hoje uma cidade grande, Cagliari foi fundada pelos fenícios há mais de 13 séculos com o nome de Karalis. É cosmopolita e preza muito sua veia artística, celebrada em construções do passado como o Anfiteatro do século 2 (na Viale Sant’Ignazio) e o Duomo, e outras mais recentes, como a Cittadella dei Musei – que abriga diversas instituições culturais, inclusive o Museo Nazionale Archeologico, com seu acervo de estatuetas e outras relíquias nuragues.

Para quem decide passar uns dias em Cagliari, não faltam bons pontos para aproveitar o combinado “céu-e-mar”, como as praias de Poetto, Sella del Diavolo ou Calamosca. A vida noturna é digna de nota, especialmente no verão, quando os clubes e pubs da Corso Vittorio Emanuelle, em Cagliari, fervem ao som de todos os estilos musicais. É o caso do Buddah Beach Disco, um espaço para mais de mil pessoas onde ocorrem desde shows de rock até raves e baladas de música tecno.

Em Porto Cervo, um night club ainda mais badalado ganhou fama mundial. É o Billionaire, que não tem esse nome à toa: pertence ao ex-diretor de equipes de Fórmula 1 Flávio Briattore. Por isso, o lugar é cenário constante de festas repletas de famosos do mundo dos esportes. Mesmo quando as celebridades não dão as caras, há requinte de sobra nas noites do Billionaire.

Saindo da capital, o ponto de parada obrigatório é a chamada Costa Esmeralda. Por lá, shorts e camiseta até podem circular pelas ruas, mas o usual é ver roupas de grifes contrastando com uma natureza verde e um mar de azul profundo.

A Costa se estende por boa parte do litoral leste da ilha, indo do seleto vilarejo de Cala Gonone até a Isola La Maddalena, no extremo norte. Pode ser alcançada por vôos fretados que partem da capital, Cagliari, ou de carro, por estradas charmosas. Há igualmente a opção das linhas de trem e de ferryboat.

Para explorar melhor a área, vale arriscar os passeios marítimos. Eles permitem conhecer joias escondidas, como a caverna aquática Grotta del Bue Marino, em Cala Gonone. Por sinal, se você decidir visitar a Sardenha, prepare-se com antecedência. No verão europeu (meados do ano), conseguir vagas por ali se torna complicado. Uma vez lá, basta fazer como eles e se instalar em um dos resorts. Ou nos hotéis menores, mas ainda assim charmosos. Não faltam boas alternativas – a hotelaria é um dos destaques do lugar, como o Mediterraneo Hotel, que têm vista para o golfo de Cagliari e para a Basílica de Bonaria. Ou o Sporting Hotel Porto Rotondo, com sua praia privativa e infraestrurtura de resort internacional.

Para não falar nos restaurantes. Imperdível experimentar as massas com frutos do mar no Dal Corsaro, bem no centro comercial da capital. Ali, as receitas tradicionais, com seus temperos mediterrâneos (muito azeite e ervas secas) ganharam toques de nouvelle cuisine. Isto é, porções delicadamente arranjadas nos pratos, cheias de decoração, para satisfazer também os olhos. Rival à altura é o La Lanterna, na vila de Olbia, na Costa Esmeralda. Ele ganhou fama por sua receita secreta de berinjela preparada ao forno com cebolas vermelhas. Apostar nos restaurantes de comida local é certeza de prazer instantâneo. Depois, é só andar despreocupadamente, aproveitando o dolce far niente desse balneário.


SICÍLIA: TRADIÇÃO E HOSPITALIDADE



Tudo culpa do cinema. Foi a sétima arte que vinculou para sempre a Sicília à máfia italiana. E é bem verdade que, especialmente até os anos 1980, a Cosa Nostra imprimia uma fama nada amistosa à maior ilha do Mediterrâneo – exatamente como em certas passagens da trilogia “O Poderoso Chefão”, do escritor Mario Puzo. Na Sicília de hoje em dia, contudo, sobressaem a beleza do panorama, os monumentos seculares, a mistura arquitetônica exótica de estilos grego, mourisco e romano e a excelente comida local.

Fincada no meio das águas mediterrâneas como um posto de passagem, a Sicília sempre foi disputada pelos mais diversos povos, dos vândalos aos bizantinos. Os primeiros que por ali marcaram terreno foram os gregos. Separada do continente e da “bota” em si pelo Estreito de Messina, com apenas 3 km, a ilha conta 5 milhões de habitantes em seu território de 25 mil km2 – mas é visitada anualmente por outros milhões em busca de suas cores e sabores.

A indústria do turismo nem precisaria de praias ou hotéis de luxo: quem parte para conhecer a Sicília geralmente sabe que o foco está mais nas visitas a sítios arqueológicos e vilarejos históricos. Isso se reflete até na hotelaria. Que tal se hospedar num antigo convento, com todo o ar misterioso que isso representa? É assim no Grand Hotel Piazza Borsa, na capital Palermo. Não faltam redutos históricos desse tipo, adaptados ao turismo.

É verdade que a natureza também atrai visitantes. As praias de Cefalú e Taormina são excelentes para mergulho, prática de esportes ou aprazíveis passeios de barco. Taormina, aliás, é considerada a janela siciliana para o mundo, oferecendo até mais opções de hotéis charmosos e gastronomia refinada do que a capital da ilha, Palermo. Lugares como o

La Giara, um restaurante pra lá de charmoso, fundado em 1953. Com vista para o mar, ele dá água na boca de quem entra, com o aroma de especialidades sicilianas como o canelone crocante de ricota e peixe espada. Em toda ilha, ressalte-se, você pode degustar uma culinária muito peculiar, com pratos à base de trigo, azeite, mel, queijos, frutas e verduras - quase tudo “lançado” nessas terras pelos gregos.

Voltando a Taormina, esse recanto merece a visita também graças a três construções emblemáticas. A primeira é o Palazzo Corvaja, um palácio construído no século 15, com pedras de um templo da Antiguidade. As outras duas são os milenares teatros Odeon (descoberto em meio a ruínas em 1892) e Grego (que data de 300 a.C).

Há rivais à altura para essa cidade histórica. A maior delas é Siracusa. Centro de poder no século 5 a.C., hoje ela é dona de imperdíveis templos, como os de Atena e Apolo. Também oferece galerias de arte e museus, com o que há de melhor no ramo da artesania siciliana. Prepare o bolso, pois aqui você vai gastar alguns euros, com certeza.
Já Agrigento, famosa pelo modo de vida sofisticado de seus habitantes, possui igrejas de impressionar, como a de Santo Spirito, a Santa Maria dei Grecci e o Duomo, erguido no século 14. Essa cidade não fica atrás de ninguém no quesito antiguidades. É o ponto mais próximo do chamado Vale dos Templos, um dos mais conservados complexos de construções gregas.

Reserve um dia todo de visitas, sobretudo se você curte fotografar - há detalhes mil nas ruínas. Um passeio lúdico, que incita a curiosidade e desperta o arqueólogo que existe dentro cada um. Igualmente lúdico nestas paragens é desafiar um gigante imponente, feroz e singular: o Monte Etna. É o maior e mais ativo vulcão da Europa, constantemente monitorado por especialistas (o que é altamente necessário para, em caso de erupções, avisar a tempo os habitantes de Messina e Catania).

O cuidado procede: na verdade, trata-se não de “um” vulcão, mas de um cone central com outros 700 secundários que podem expelir lava. Mesmo com esse poder destrutivo (ou graças a ele!), o Etna é uma atração turística das mais célebres. Visitas a ele podem ser feitas por intermédio de agências especializadas – com bicicletas, veículos 4x4 ou mesmo excursões a pé. A partir de Catania, a ferrovia Circumetnea leva até o monte (desembarcando em Riposto). Ou você pode pegar um ônibus direto até Nicolosi, ali pertinho. Os passeios agendados costumam ser mais cômodos, por ter transporte próprio. Saem a partir de 120 euros pelo dia todo.

A empreitada costuma valer a pena também devido a uma lenda pitoresca: desde os tempos antigos, diz-se que o Etna queima em suas entranhas porque ali o deus Vulcano (ou Hefesto, para os gregos) montou sua fundição particular. Folclore à parte, a Sicília é ponto de partida para outro passeio vulcânico interessante – e um pouco mais “calmo”. As Ilhas Eólias, localizadas a nordeste, possuem uma miríade de vulcões, mas já extintos.

Hoje só o que ferve por ali é o ânimo dos visitantes, que podem chegar modestamente com o auxílio de ferryboats ou em iates próprios (mais comuns a alguns seletos habitués, como as modelos Naomi Campbell e Kate Moss). Arquipélago composto por oito ilhas principais, as Eólias agradam aos visitantes pelo visual incrível de seu litoral rochoso e mar límpido, mas também por ser um dos destinos de viagem mais exclusivos da Europa, ainda desconhecido mesmo para muitos italianos.

A Sicília é assim mesmo, um lugar que mistura opulência e simplicidade, aridez nas montanhas e um litoral sempre ao alcance, a história antiga e a urgência de um estômago bem recheado com lagostas, polvo ou peixe-espada. Mesmo quando lembra os desmandos da máfia, o cinema também mostra tudo isso – e é no que nós devemos prestar mais atenção mesmo.


NÁPOLES – DELICIOSA BAGUNÇA!



Destino popular mesmo entre os próprios italianos, “Napule”, como se diz no dialeto local, fica ao sul de Roma, separada da capital por cerca de 2 horas e meia de carro (230 km). Ainda assim, são muitos os que não conseguem conhecer facilmente todas as versões (e vielas, e atrações) napolitanas – elas são muitas.

Fervilhante por natureza, talvez seja descrita, à primeira vista, como um lugar extremamente barulhento. E é. Mas, no bom sentido, isso significa estar em uma cidade que privilegia muito a expressão individual – muito dada à música e às manifestações artísticas de várias formas e mesmo na vida cotidiana, com um povo que fala alto, gesticula sem parar e para o qual política, futebol e religião se discutem sim. Muito.

Para localizar essa gente empolgada (que, segundo especialistas em lingüística, tem nada menos que 50 formas diferentes de dizer “não” usando as mãos e o restante do corpo), basta um passeio pelo centro. Nas regiões onde ficam a Piazza del Plebiscito, Piazza Dante ou a Via Roma – centro conhecido como Spaccanapoli – turistas caminham em profusão, assim como os orgulhosos nativos.

Orgulhosos de quê? De tudo. Da cultura (a cidade teve uma das primeiras universidades da Itália, em 1224), da religião (São Gennaro, tão cultuado nas comunidades italianas do Brasil, era napolitano), do futebol (o ídolo Fábio Canavarro, nasceu aqui) e, claro, da pizza. Consta que ela foi inventada em Nápoles por Raffaele Esposito, no ano de 1889, para agradar a uma certa monarca chamada Margherita de Savoy.

Para os que desejam provar a versão mais autêntica dessa unanimidade gastronômica, sobram restaurantes. Dica: vá ao Pizzeria Gorizia, um dos mais tradicionais, fundado em 1916. Lá, tudo é feito como 90 anos atrás – dos ingredientes ao forno a lenha. Além da margherita, o lugar ganhou fama pela pizza marinara, que, ao contrário do que se costuma pensar, não leva frutos do mar. Ela é feita, isto sim, de alho, orégano e molho de tomate. O nome marinara é apenas uma homenagem ao mar – como quase tudo em Nápoles.

Não é só a comida que estimula os brios napolitanos. Eles se gabam igualmente da preservação histórica, que resiste magnificamente ao tempo, mesmo com a organização urbana altamente duvidosa (dizem que, em Nápoles, acreditar em semáforos e utilizar espelhos retrovisores é coisa de amador).

Basta olhar para igrejas como a San Giovanni a Carbonara, erguida em 1343 e que ainda guarda obras medievais, como o Túmulo de Ladislau, ou o Duomo – este começou a ser construído em 1294 e ainda guarda relíquias de San Gennaro, padroeiro da cidade, que foi martirizado em 305 d.C..

O coração da área urbana, nos arredores do bairro de Santa Lucia, exibe ainda outras dezenas de igrejas com mais de 5 séculos de idade. Enquanto, a sudoeste, a cidade apresenta museus montados em prédios igualmente seculares – como o famoso Castel Nuovo, na Piazza Municipio, fortaleza que hoje abriga o Museo Cívico. Ao passar por ali, atente-se ao portão de bronze original de 1468. Ninguém deixa de se maravilhar com ele.

O povo de Nápoles é cioso de tudo isso, mas o sucesso não sobe à cabeça. Gentis e animados, são simples por natureza – e talvez por isso sejam tão comparados aos brasileiros. Convivem tão naturalmente com seu estilo de vida desordenado (muitas vezes visto por alguns como permissivo demais) que nem dão muita bola para o fato de bem ali no seu quintal existir um vulcão. O Vesúvio, localizado 15 km a sudeste de Nápoles, próximo da costa, é o único de sua espécie no continente europeu (lembrando que o Etna está na Sicília – uma ilha). Em 79 d.C., uma erupção gigantesca soterrou as cidades de Pompéia e Herculano e matou cerca de 2 mil habitantes.

Com o passar dos séculos, foram desenterradas pinturas e artigos da vida comum, assim como corpos “mumificados” pela lava. Você pode ver tudo isso no Museo Archeologico Nazionale, considerado um dos mais importantes do mundo justamente por conter os tesouros de Pompéia e Herculano.

Visitá-lo é fundamental, assim como ir até as ruínas de Pompéia no sopé do Vesúvio, que anda calminho desde 1944. São apenas 40 minutos de trem (pela Circumvesuviana) ou de carro (pela estrada Nápoles-Salerno), da Piazza Plebiscito. Há visitas guiadas, que custam cerca de 80 euros na maioria das agências locais. Elas costumam ser a melhor opção, já que a história de cada sítio arqueológico é o mais interessante de se ouvir.

Nápoles, por sinal, é ponto de partida para essa e muitas outras atrações do sul italiano. Encravada ali, na “canela da bota”, a cidade é saída para quem decide conhecer a famosa e lindíssima Costa Amalfitana. Vilas como Amalfi e Positano são facilmente alcançadas de carro em 1 hora. Há também barcos e ferryboats que levam às joias do Mar Tirreno e do Mediterrâneo, como as grandes Sicília e Sardenha, e também às pequenas Ilhas Eólias. E, lógico, também à mais disputada de todas: a Ilha de Capri.



Essa ilhota, que já abrigou imperadores, monges enclausurados e pescadores sortudos, hoje atrai mesmo é um número grande de estrangeiros em férias. Desde o século 19, quando foram montados ali pequenos hotéis, Capri vem mostrando sua veia para o turismo. A hospitalidade aflora nas propriedades rurais que hoje hospedam estrangeiros, como a Villa Sarah, erguida em meio os vinhedos da ilha. Você vive ali como se fosse um local, conversando com a família que toma conta do hotel e, se quiser, até ajudando nas tarefas. Isso, claro, quando não estiver a fim de ir para as areias branquinhas, aproveitar a temporada de praia.

Falar em “temporada”, é bom avisar, não faz muito sentido em Capri: por todo o ano o clima agradável da ilha chama os interessados em conhecer Marina Grande, Marina Piccola e Anacapri. Lá existem mirantes que dão vista para os impressionantes Faraglioni - formações rochosas espalhadas pela costa nordeste da ilha. Mais que tudo, os mirantes permitem ver a Grotta Azzura. A luz natural que toca suas águas cria mosaicos coloridos nessa a gruta escondida no noroeste da ilha. É a marca registrada de Capri, recebendo visitantes que chegam de barco a cada 10 minutos.

Correção: a gruta é, de fato, uma marca registrada do lugar, mas não a única. Já ouviu falar em limoncello? É um licor de limão que faz a fama local e leva às alturas a cabeça de quem abusa dele. Só mesmo no sul da Itália, esse lugar único, uma leve embriaguez poderia se tornar uma saborosa e original atração turística.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Reportagem - Washington DC

Vou disponibilizar aqui, de vez em quando, algumas reportagens que fiz no glorioso ramo do turismo. A primeira delas, uma que deu capa no ano passado. Espero que aproveitem!



Washington, a eleita
por Flávia Pegorin
Revista Viajar pelo Mundo
Setembro 2012 - edição nº 38

Às vésperas de mais uma eleição presidencial nos Estados Unidos, a capital do país mostra por que seduz não apenas os políticos, mas também os turistas


Como é possível convencer alguém a trocar destinos turísticos consagrados como Nova York, Miami e Los Angeles por um lugar onde os famosos não são atores nem personagens infantis, mas sim políticos? Esse é o desafio de quem conhece e se apaixona por Washington, a capital dos Estados Unidos, uma opção bem diferente de viagem da terra do Tio Sam. No próximo dia 6 de novembro, a eleição presidencial americana determinará a permanência de Barack Obama por ali ou a chegada de seu adversário, Mitt Romney. E, de quebra, colocará a cidade mais uma vez em evidência para todo o mundo. Seja qual for o novo mandatário da nação, essa exposição toda na mídia só deve ajudar a capital a ganhar seus próprios cabos eleitorais.

Quem viaja para lá quase sempre se surpreende a ponto de fazer campanha por essa metrópole que agrega 6 milhões de pessoas em si e nos seus arredores. Se você duvida do poder sedutor de Washington, saiba que ela é o oposto do que se costuma imaginar sobre política: limpa, certinha e organizada. Herança de seus idealizadores – os responsáveis pela independência dos Estados Unidos, ávidos por construir um país moderno, prático e racional.

A cidade surgiu em 1790 de maneira planejada, arborizada e boa para caminhar. Impossível se perder, graças às ruas paralelas que seguem um prático esquema de letras e números. Elas são cortadas por avenidas em diagonal, com nomes de outros estados americanos. Em pouco tempo você se localiza e passa a “dominar” o mapa. O melhor ponto de partida para um tour é o The Mall – um dos maiores parques urbanos do mundo. Ele é ladeado pelos mais emblemáticos monumentos e edifícios da capital. Numa das pontas está o Capitólio, sede do poder legislativo americano. Construído em etapas, a partir de 1793, ele exibe sua inconfundível cúpula de 88 metros de altura, que se tornou um símbolo da nação. Pouca gente sabe, mas o arquiteto que projetou a obra, William Thornton, inspirou--se na fachada leste do Museu do Louvre e também no Panteão de Roma. A construção, porém, levou tanto tempo para ser concluída que as mudanças pelo caminho acabaram diminuindo a semelhança com os célebres edifícios europeus.

Na outra ponta do The Mall resplandece o Lincoln Memorial, monumento em homenagem ao presidente Abraham Lincoln que se tornou palco das mais dramáticas manifestações do país. Foi lá que, em 1963, cerca de 25 mil pessoas ouviram Martin Luther King proferir seu memorável discurso I Have a Dream (Eu Tenho um Sonho) – um marco na luta pelos direitos civis. Já no meio do The Mall desponta o Monumento a Washington, obelisco de quase 170 metros de altura finalizado em 1885 – na época, era a edificação mais alta do mundo, mas o título só durou quatro anos, até a inauguração da Torre Eiffel em Paris. No entorno da praça há outros pontos notáveis, como o Memorial a Thomas Jefferson, a Biblioteca do Congresso, o Federal Reserve (o Banco Central) e, claro, a Casa Branca – sede do governo.

Mas vale a explicação sobre alguns desses locais: caminhar para vê-los e fotografá-los é quase uma obrigação. Entrar neles, no entanto, pode não valer a pena. A Casa Branca, por exemplo, só aceita visitantes com hora marcada – e há uma “fila” que às vezes chega a seis meses de espera.

O Monumento a Washington também fica aberto ao público. Do alto dele, tem-se uma incrível vista da cidade e dos arredores, sobretudo do Rio Potomac. Um elevador leva até o topo, mas quem tiver fôlego pode escolher a escadaria de 897 degraus. A entrada é gratuita e os ingressos começam a ser distribuídos às 8h30. Em alguns dias da alta temporada, no entanto, podem se formar grandes filas e não haver ingressos suficientes. Por isso, é uma boa ideia reservar online, com algumas semanas de antecedência.

Museus inigualáveis
Se preferir, aprecie por fora os marcos históricos imortalizados nas centenas de filmes que usam a metrópole como cenário. Entre eles, sucessos como Inimigo do Estado, A Lenda do Tesouro Perdido e a série de TV The West Wing. A satisfação será garantida da mesma forma. Os museus, por outro lado, estão à inteira disposição para quem quer visitá-los por dentro – e, nesse caso, vale muito a pena. A maioria tem entrada gratuita e há alternativas para todos os gostos. Imperdível desbravar pelo menos alguns dos 19 que integram o Instituto Smithsonian. Mais de 30 milhões de turistas exploraram o complexo no ano passado. Pudera: somadas, as coleções do Smithsonian possuem 137 milhões de objetos. Abrangem o mundo inteiro e toda a história da Humanidade – de um fóssil de 3,5 bilhões de anos até naves espaciais.



No Air & Space Museum, por exemplo, as vedetes são o ônibus espacial Enterprise e o bombardeiro Enola Gay, que lançou a bomba de Hiroshima, na Segunda Guerra Mundial. Está em cartaz ainda uma exposição sobre os 50 anos das viagens tripuladas ao espaço. Ela vai até 2013. Já na Portrait Gallery, fotos e relatos das aventuras da aviadora Amelia Earhart – primeira mulher a cruzar o Atlântico pilotando – empolgam os visitantes.

Enquanto no Museu de História Natural há vários pontos altos, como a sala de geologia (onde fica o célebre diamante gigante Hope, de 45 quilates), há também a mostra chamada “Titanoboa, a Serpente-Monstro”, que vem surpreendendo a todos (para não dizer “aterrorizando”’). A loja do museu é uma atração à parte. As crianças têm uma grande área só para elas, com brinquedos, animais de pelúcia (de cobras a dinossauros) e jogos. Os fãs de arte podem se refestelar na National Gallery of Art.

Dividida em dois enormes edifícios, ela abriga uma das mais valorosas coleções do planeta, com trabalhos de Picasso, Matisse, Monet, Van Gogh, Jackson Pollock, Roy Lichtenstein, Andy Warhol e Miró. Sem contar as famosas esculturas de bailarinas de Edgar Degas e uma infinidade de tesouros clássicos e modernos. Mais uma vez, tudo com entrada gratuita.



Para a criançada, há o National Zoo (que faz parte do Smithsonian, mas fica mais ao norte da cidade). O zoológico se celebrizou pelos seus pandas gigantes e, recentemente, foi manchete dos jornais graças a ilustres novos moradores: dois filhotinhos de guepardo – o animal mais rápido que existe. E mesmo fora do Instituto Smithsonian você acha um sem fim de atrações inusitadas.

Uma delas é o International Spy Museum, museu dedicado ao mundo dos agentes secretos – tudo a ver com a cidade. Dá para aprender sobre métodos de espionagem desde os tempos do Império Romano até a Guerra Fria. Além disso, o museu oferece atividades divertidas, como uma brincadeira em que o visitante assume uma identidade secreta e realiza uma pequena missão. E pasme: os curadores do museu são ex-espiões de verdade, aposentados da CIA.

Um pouco mais “sério” é o Newseum – que conta a história do jornalismo de forma instigante. Algumas das fotos mais incríveis já publicadas em jornais e revistas estão no acervo de imagens vencedoras do Prêmio Pulitzer. E muitos se emocionam ao trilhar a ala que homenageia mais de dois mil jornalistas mortos no exercício da profissão – inclusive o brasileiro Tim Lopes.

Beleza americana
Cansou de museus? Washington se revela igualmente encantadora em seus bairros, cada qual com uma vocação para agradar aos turistas – começando por Downtown. O centro é onde ficam os hotéis mais sofisticados e restaurantes de gabarito. Lugares como o Willard Intercontinental, um ícone da hotelaria internacional, que atrai diplomatas e homens de negócios desde o século 19 e fica a dois quarteirões da Casa Branca. Recentemente renovado, guardou a classe dos tempos antigos na decoração e no treinamento dos funcionários. Mesmo que você não queira despender US$ 315 por dia para se hospedar ali, vale a pena dar uma passada para conhecer.

Outro bairro que vale a viagem é Dupont Circle, ao norte, a face boêmia de Washington. Próximo à chamada Embassy Row (onde ficam de fato muitas embaixadas de diversos países), as ruas são repletas de ótimas livrarias (algumas 24 horas), galerias de arte, baladas para curtir noite adentro. Os restaurantes costumam ser bem descolados – como o Hank’s Oyster Bar, que arrebanhou ao longo dos anos uma legião de fãs. Isso graças às suas ostras saborosas e ao curioso sanduíche de lagosta – algo que ninguém pode deixar de experimentar.

Tão bacana quanto Dupont Circle é o distrito de Capitol Hill, na zona leste da capital. Com suas casinhas de tijolos de dois andares e ruas cheias de árvores alinhadas, o bairro atrai tanto pelas igrejas centenárias quanto pelo colorido e instigante Eastern Market. Dividido em boxes que vendem todo tipo de ingrediente, especiaria e alimento, esse antigo mercado de 1873 simboliza hoje em dia a nova vocação gastronômica da cidade, que cada vez mais se gaba de ter excelentes chefs de cozinha.

Por sinal, depois de provar umas frutas no mercado e dar um giro pela feira de antiguidades colada a ele, a pedida é experimentar um dos muitos restaurantes na região da 8th Street com a Pennsylvania Avenue. Dica: o Matchbox é o mais perfeito reduto da chamada “New American Cuisine”. Isso quer dizer um cardápio de comidas aparentemente populares, como pizzas e sanduíches, mas preparadas de modo inventivo e sofisticado. Um exemplo? O sanduíche “Matchbox Cubano”, que leva carne de porco assada na erva-doce, queijo gruyere e maionese dijon. E se o charme de Capitol Hill não for suficiente, talvez seja o caso de desvendar Georgetown, o mais encantador dos bairros de Washington.

A área, que se desenvolveu na era colonial, é lotada de atrações para ver e saborear. A Old Stone House, mansão que se mantém em pé desde 1765, revela aos visitantes como era viver na capital nos tempos em que o país era uma simples colônia britânica. Já a Georgetown Cupcake, lojinha que se tornou famosa pelos bolinhos saborosíssimos (especialmente o redvelvet, de massa avermelhada), é tão charmosa que virou tema de um reality show na TV. O programa DC Cupcakes, apresentado no Brasil pelo canal Fox Life, mostra o dia a dia de uma doceria em que cada quitute é uma obra de arte.

Georgetown congrega também hotéis, pubs e restaurantes de todo tipo e influência, dos mais caros aos mais populares. O grande chamariz, porém, são as lojas de marcas internacionalmente conhecidas, como GAP, Zara, Apple Store, UrbanOutfitters, Ralph Lauren, Adidas e o shopping Storesat Georgetown Park (tudo entre as ruas M e N e a Wisconsin Avenue). Essa pegada eclética faz o bairro lotar nos finais de semana.

Quem prefere fugir desse agito todo tem uma excelente alternativa no Waterfront Park, a área verde que dá de frente para o rio Potomac, já na divisa com o estado vizinho da Virginia. Repleta de alamedas e áreas de piquenique, ela virou um refúgio de paz, onde não raro os próprios congressistas aparecem para esfriar a cabeça após os debates acalorados no Congresso.

Melhor ainda é o Botanic Gardens – o mais antigo jardim botânico dos Estados Unidos. Sua principal atração é a estufa envidraçada com um domo de 28 metros de altura, que abriga uma incrível diversidade de plantas – de orquídeas a espécies raras do deserto. Aliás, há ambientes inteiros simulando florestas e um setor só para crianças, onde os pequenos podem tocar, cheirar, pegar e até plantar vegetais variados.

Se em novembro a cidade ficará em evidência graças à eleição, saiba que em dezembro, durante as festas de fim de ano, ela brilhará ainda mais. Literalmente: ganhará uma decoração pública especial que, com a neve, promete deixar o cenário mais encantador. E nos meses seguintes sediará eventos como o Dia de Martin Luther King (21 de janeiro) – que coincidirá com a posse do novo presidente – e o Festival das Cerejeiras (em abril), quando as árvores doadas pelos japoneses há mais de cem anos entram em um êxtase florido. Washington, como se pode notar, é candidata a destino de viagem não apenas em 2012, mas também nos próximos anos.

A pé, de bike ou de segway?
Pedestres e ciclistas têm vez em Washington, uma cidade plana e onde os motoristas, em geral, são educados. Por isso, agências de aluguel de bicicletas pipocam por todo lado. Não quer fazer esforço? Tudo bem, a nova onda é o segway – aquela espécie de patinete elétrico. Há diversos tours guiados. Os mais procurados são aqueles que percorrem casas e prédios supostamente assombrados. Isso para não falar do passeio pelos locais citados no best-seller O Símbolo Perdido, do escritor Dan Brown, autor de O Código Da Vinci. Já é um sucesso desde o lançamento do livro, em 2009, mas deverá ficar ainda mais concorrido com a chegada do filme, que será rodado em 2013, com Tom Hanks no papel principal.

Pode não parecer, mas Washington é, sim, uma cidade para visitar em família. O fato de a maior parte das atrações ser gratuita já é uma ajuda e tanto para quem viaja com os filhos. E os arredores também prezam por esse público. O parque de diversões Six Flaggs America, em Mitchellville, é um dos mais bacanas do país. Fica a 30 km do centro e possui nada menos que sete montanhasrussas e outras cem atrações para a molecada. Em Bethesda, o GlenEcho Park é mais educativo e mais retrô, com um carrossel de 50 anos e eventos de dança e teatro de marionetes. Isso garante encantamento igualmente para os mais velhos.

Um pouco mais distante, a quase uma hora de carro, Annapolis cai como uma luva para passeios de um dia. Lugarejo colonial, ela fica à beira-mar e preserva a maioria de suas construções dos séculos 17 e 18. O charme exala dos elegantes restaurantes especializados em frutos do mar, das lojinhas de artesanato e dos passeios de bicicleta em meio ao casario colorido. Para os fãs das compras, a dica é ir ao Potomac Mills Outlet Mall, na cidadezinha de Prince William, a 40 quilômetros do centro. Prepare-se para passar um dia inteiro lá: é um dos maiores shoppings de desconto do país, com 220 lojas de marcas famosas, além de cinemas e área de alimentação.


SERVIÇOS
Moeda | A moeda oficial dos EUA é o dólar (US$). Um dólar equivale a R$ 2,03 (até o fechamento desta edição).

Fuso Horário | Washington tem uma hora a menos em relação ao horário de Brasília.

Como Ligar | Para telefonar para o Brasil use 11 + 55 + código da cidade + telefone. Para ligações a cobrar, disque 1 800 344-1055 e siga as instruções em português.

Clima | A capital americana tem estações bem definidas durante o ano. No inverno, de dezembro a começo de março, a temperatura fica entre 0 ºC e 6 ºC, com neve.

Fique Esperto | Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, ficou muito mais complicado circular em edifícios públicos. Assim, leve consigo apenas itens mais importantes e não mochilas lotadas de coisas. Isso economiza tempo na revista a cada entrada de museu ou monumento histórico.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Separado ou tudo junto?

Tem muita gente que faz coisas que eu admiro - como aqueles que sempre dão bons conselhos, aqueles que se lançam no trabalho voluntário e aqueles que sabem tricotar. No âmbito das viagens, eu admiro muito mesmo as pessoas que sabem viajar sozinhas. Porque essa é uma ciência profunda.

Viajar sozinho implica em muitas, muitas variáveis. Sim, tem a parte de jogar a mochila nos ombros sem olhar pra trás e não precisar ficar decidindo nada com outro alguém. Isso não implica variável nenhuma - é seguir o próprio gosto e fim de papo. Mas tem o restante.

Primeiro, tem a segurança. Viajar sem mais alguém problematiza, por exemplo, que a gente passe mal e seja levado pros doutores por alguém que não conhecemos ou confiamos. E se o sujeito está lá, infando o peito com o vento que sopra nas florestas da Costa Rica, e tem um súbito desmaio com a brisa cheia de saúde? Quem vai arrastar o desgramado pra ser visto por um autêntico curandeiro autodidata? E se, numa dessas, aplicam unguento de gengibre onde era pra aplicar pasta de babosa?

Sério, o viajante solitário precisa se precaver. Ter um bom seguro-saúde, deixar os contatos de todos os pontos de parada com um familiar e ainda pensar bem se vai se jogar em passeios arrojados e/ou sair à noite. Sim, porque sair à noite sozinho pode ser mais perigoso do que descer as cataratas num barril. Ficar lá na mesinha bebericando e olhando em volta, fazendo contato visual com estranhos e esperando que a porção de fritas não seja grande demais pra um... Dureza.

Tem ainda aquele caso clássico de estar parado em frente à Golden Gate, linda e vermelhona, conhecendo cada metro dela a bordo de uma bicicleta descolada... e não ter pra quem gritar "isso é legal demais!!". Já fiz algumas viagens a trabalho, sozinha, nas quais tive a chance de dar escapadas turísticas. Foi um pouco melancólico pra mim. Tomar aquele café incrível em Buenos Aires e não ter com quem comentar; estar no espetacular farol da Ilha do Mel, vendo AQUELE por-do-sol, e não ter quem abraçar; estar presa no quarto do hotel curitibano por conta da chuva e não ter quem ouvisse todos os xingamentos.

Sendo justa, eu já escutei muitos relatos de amigos que sempre viajam sozinhos e não vêem nada de ruim nisso. A jogada parece ser boa mesmo: ao viajar sozinho, tem-se a chance de fazer novos amigos - nem que seja de modo compulsório; de falar outra língua o tempo todo e se achar sendo muito bem entendido enquanto aprende novas palavras; de desbravar lugares onde uma suposta companhia, talvez, não quisesse ir. Comer o que quiser, parar a qualquer hora, dormir sem ser sacudido por um traste que desperta às 7h e tem animação de monitor de acampamento...

Já descobri que quem viaja sozinho pode, por exemplo, se sentir muito melhor em um alguergue classe-média do que num super hotel de luxo. O albergue, que tem a característica de ser passagem de gente de todo canto, une mais os visitantes e propicia até formar um grupo pra passear junto. No hotelzão... bom, você pode sentar no lobby e puxar conversa, mas também pode acabar levando um spray de pimenta na cara por causa disso.

O diabo é que viajar sozinho, muitas vezes, não é opção - é a falta dela. A pessoa até queria uma companhia, mas cadê achar um desalmado que esqueça tudo e embarque pra 12 dias de trekking na Mongólia? Deixar os sonhos de lado, porém, não cabe: muito melhor estar sozinho naquela vila de pescadores que a gente desejou tanto ver do que acompanhado em um resort com cara de Projac.

Ao viajar em vôo solo é preciso ter apenas uma coisa na cabeça: estar sozinho muitas vezes pode ser relaxante e bom pro descanso da alma, enquanto estar acompanhado não é garantia de bons momentos. Fazendo uma pesquisa, garanto que as viagens nunca são estragadas por tempo ruim ou mala extraviada - e sim por estar com alguém insuportável ao lado. A chuva a gente vence usando capa; já com o mala-sem-alça, não tem capa de invisibilidade que dê jeito.

Sendo assim, é bom avaliar muito bem a escolha de ir passear pelo mundo em solitário. Fazer uma lista de prós e contras antes de decidir convidar alguém ou de botar o pé na estrada sem um outro alguém. E aí é curtir uma viagem com alegria plena de estar junto ou separado.



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Para minha tia - e a quem interessar possa

Minha tia Maria Inês partiu, semanas atrás, para sua primeira investida européia. Mãe dedicada de três gigantes, esposa amorosa e figuraça ímpar, a minha tia estava apreenssiva ao telefone quando liguei pra desejar dias incríveis. Normal pra uma primeira saída dessas. Tentei explicar que, lógico, tudo daria certo, mandei minhas good vibes e me dispus a escrever umas linhas de dicas pra ela, caso sobrasse tempo entre uma fila e outra (verão europeu... até dá saudades da zorra que fica aquilo). Ela aceitou de bate-pronto - e o relato que corre abaixo seguiu com a minha tia Velho Mundo afora.

Ela voltou tem alguns dias e ainda não nos falamos ao vivo, mas soube por outros que ela amou cada segundo. E que meu guia mixuruco, olha só!, foi parar nas mãos de coleguinhas de excursão da tia que curtiram bastante as indicações e me agradeceram por isso. Quanta honra pra uma pobre escrevinhadora, fiquei feliz mesmo.

Daí eu decidi que, ué, se um povo que eu nem conheço curtiu as obviedades, talvez o leitor aí tenha também um tio ou tia de partida pra um tour europeu e queira repassar. Ou, sei lá, você aí está querendo viajar sem sair da cadeira só por hoje, enquanto seu chefe não tá olhando... Fazer assim? Então segura na minha mão, finge que é minha tia Maria Inês e embarquemos em um roteiro pelas cidades mais carimbadas da Europa. Bora?

Paris
Como disse pra você, Tia, eu acho Paris um dos melhores lugares do mundo pra caminhar, olhar as pessoas, curtir sem pressa. Joie de vivre, saca? Bom, uma vez caminhando, claro que vocês devem querer ir:

No Louvre - bobagem querer ver tudo, impossível e dá um cansaço incrível. Passando umas três horas, uma tarde, dá pra selecionar no mapinha o que é mais do gosto e ver o que dá. Só não perca a sala de esculturas onde está O Beijo de Cupido e Psique, que é lindo.

Museu D'Orsay - pequenino e muito lindo. Só o prédio já vale a visita, porque era uma estação de trens e é tudo maravilhoso lá dentro. Destaque para as pinturas, os Monets mais encantadores.

Arco do Triunfo - é legal caminhar pela avenida Champs Elysée até o arco. Ele fica na etoile, a rotatória mais bonita que existe! Tem passagem subterrânea até ele e, uma vez lá, tentem subir os degraus (muitos...) até o topo, que a vista é simplesmente incrível.

Torre Eiffel - tem que subir, viu? TEM! Até o topo. O elevador custa uns trocos, mas vale a pena. A fila é indecente, mas perseverem.

Comida! - olha, é caro comer (bem) em Paris, não vou mentir. Em geral a gente procura uns restaurantes pequenos onde têm sanduíches ou aposta na Gallerie Lafayette. Sim, é uma loja de departamentos gigante - e, lá no topo dela, tem um restaurante tipo bandejão muito bom. Notem que a garrafinha pequena de vinho custa menos que a Coca-Cola! Como não amar?

Passeios! - eu adoro cada praça de Paris a ponto de querer virar mendiga lá só pra dormir naqueles bancos! Recomendo irem à Place des Vosges, no bairro do Marais, a mais bonita. E também ao Jardin de Luxembourg. E a Tulleries, aquele que fica em frente do Louvre. Além disso, acho que vale passear longamente no bairro de Montmartre (alô, assistiu Amelie Poulain? Tudo lá!). A igreja de Sacre-Coeur é linda (por fora, não entrei) e o bairro todo é uma delícia. Peguem o funiculaire (bondinho) pra chegar lá, que a subida é assassina.


Veneza
Tudo o que eu digo sobre Veneza é que parece aquelas cidadezinhas colocadas dentro da bola de vidro com água, aquelas que a gente guarda na estante. É outro mundo, diferente de tudo. Por isso mesmo lá não adianta nada querer olhar mapas... O negócio é ir pelos becos vendo tudo o que passa e seguindo as plaquinhas da ponte Rialto, da Estação ou da Pizza San Marco. Olhando as placas, vocês chegam! E se virem algo no caminho e quiserem comprar, comprem na hora, porque achar de novo o mesmo lugar é quase impossível.

Gondola! - façam o passeio. Custa uma facada, mas vale a memória pra sempre.

Piazza San Marco - vale o giro pela praça em si, vale entrar na catedral (reparem nos mosaicos no chão instável, que loucura) e vale ir no Palácio dos Doges também (eu tive um pouco de nervoso, mas é legal ver a Ponte dos Suspiros por dentro). Tomem um cafezinho num dos dois cafés das laterais. É icônico.

Comida! - Veneza tem culinária baseada nos frutos do mar - e são incríveis. Ao lado da ponte Rialto eu comi um macarrão com molho branco com lagosta que está no Top Ten das melhores coisas que já comi na vida.


Florença
Lindíssima e, em geral, abarrotada de turistas. Difícil fugir, porque eles estão em quase toda parte. Mas o melhor de Florença é isso mesmo, saber que ela atrai gente há centenas de anos e continua lá, doce e singela. Recomendo pacas:

Galleria dell'Accademia - onde está a estátua original do Davi (do irritadinho Michelangelo). É o ponto focal do lugar. E a fila é escandalosa, cheguem cedo. Ou comprem os tickets antecipadamente (sei que tem jeito de fazer isso pela internet pra Accademia e para a Galeria Uffizi, mas como nunca fiz não sei como proceder. Só sei que vale ir!).

Ponte Vecchio - é só uma passagem sobre o rio com lojas por toda a extensão. Mas é uma belezura.

Duomo - nunca entrei, porque também tem fila demais. Mas dizem que ela é o contrário do Duomo de Siena: em Florença, é trabalhada por fora e "clean" por dentro; em Siena é sem graça por fora e linda por dentro.

Giardino di Boboli - fica a uma boa caminhadinha desde a Ponte Vecchio. O museu que tem lá não importa muito, o legal mesmo é o imenso jardim com fontes, vielas pra passear, laguinhos e muitos artistas desenhando o que vêem. É poético.

Gilli - a cafeteria fica na Piazza della Republica, bem no miolo da cidade, e funciona ali, dizem, desde 1733! Eu sei que vai estar calor, mas foi o melhor chocolate quente que eu tomei na vida, parecia lava doce.


Roma
É minha, tá? Minha cidade, pode tirar os olhos! Mas tudo bem, que um dia eu vou morar lá e convido vocês pra me visitarem. Roma é simplesmente um dos lugares mais especiais da Terra, tia. Porque é zoada, porque é barulhenta, porque é inusitada. Porque tem personalidade. E como indicar coisas a fazer em Roma, caramba... Eu precisei ir três vezes pra ver só uma parte. Então vocês escolhem o que é mais legal.

Scalinata di Spagna - começo por ela porque, ave, que coisa incrível ver gente do mundo todo se aglomerar numa modesta escadaria. Bom, nem tão modesta, que é enorme. E é a coisa mais romana sentar ali, tomar gelatto, beber água da Fontana della Barcaccia (podem beber, as fontes de Roma são potáveis na maioria. E geladinhas, e deliciosas, e placam o calor... nhami!).

Fontana de Trevi - é só tomar cuidado pra outro turista não lhe arremessar uma moeda bem na cara que o passeio vai bem. Sim, porque ela está sempre, o dia todo, lotada. Mas tem que ir, tem que jogar a moeda e tem que apreciar o trabalho de Bernini, o escultor que era um deus.

Piazza Navona - três fontes lindas, uma praça gigante... vão, tirem as melhores fotos, riam com as estátuas vivas esquisitonas e não deixem de ir dali até Campo dei Fiori, onde tem a feira livre e muitas bibocas ótimas pra almoçar. Fica perto também do Pantheon, que é muito bacana de conhecer (com aquela abertura no teto e a luz que entra... coisa mágica).

Vaticano - bom, eu nem sou a maior carola do pedaço, mas achei um passeio incrível. Aquela Basílica, mio Dio... Fiquei horas lá dentro só apreciando o aspecto artístico. É bom chegar cedo, porque é outro ponto sempre tumultuado de gente. Mas se forem à tarde, tudo bem também. O bom é que a fila do Museu do Vaticano, logo ao lado, pode estar bem menor - e é PRECISO entrar lá por causa da Capela Sistina. Ai, ai, quem perder a Capela Sistina apanha de mim.

Outra igrejas - informo as minhas prediletas pessoais, mas são tantas que vocês mesmos vão achar suas preferidas: Gesú (grandiosa), San Pietro in Vincoli (dura de achar, num beco miúdo, mas é onde está o Moisés); Santa Maria Sopra Minerva (que tem um teto azul legal demais).

Parque - eu acho que todo mundo deveria passar umas horas na Villa Borghese, fazendo piquenique, só pra se sentir mais vivo que nunca.

Coliseo e Forum - Pra ver ambos bem vistos leva quase um dia todo. Mas vale a pena. É como estar no túnel do tempo, só esperando o leão sair da grade e vir pro pau ou as sacerdotisas sairem dos templos pra bater um papo. Não tenham pressa, curtam o clima, essa é a viagem.

Comida! - o bom de Roma (precisava mais?) é que qualquer restaurantinho pequerrucho tem uma comida boa, honesta, saborosa. Vão na fé - e procure os lugares onde tiver mais gente falando italiano, sempre dá certo. Ah! E saiam alguma noite para jantar no Trastevere, o bairro dos restaurantes bons e da galera. É divino. E depois queimem o excesso de comida numa boa caminhada ao longo do rio Tevere. E me levem no pensamento, que pra mim isso já é um prazer. Boa viagem, tia!


Deixem que eu guie todos vocês? Pra sempre?


quinta-feira, 14 de julho de 2011

O bonde do turistão

Esse post já começa errado porque, a rigor, eu nunca embarquei de férias com um voucher de excursão em punho. Eu não deveria, desse modo, estar metendo a minha colher nessa farofa. Mas, ah, já fiz farofa semelhante, vá. Já fiz curtas excursões de bate-volta e aquelas viagens com a firma do meu marido, o Viajante Profissional, na cola. Eis, então, que me acho apta a falar sobre viagens com excursão embutida, seus prós e contras.

Bom, a bem da verdade eu nunca embarquei em excursões porque tenho coceira só de pensar nelas. Tinha, pelo menos. No momento, tento ser mais mente aberta. Excursões são formatos cabíveis de viagem, acho, para aquelas pessoas que ficam muitíssimo inseguras de rodar 26 países em cinco dias sem saber tomar trem ou pedir café em alemão; excursão pode não ser pra mim ou pra você, turista que curte estudar os mapinhas e vasculhar formas de "sair daqui e chegar lá" por sua conta, no horário que bem entender, parando onde seus pés requisitarem. Mas excursões têm seu valor.

Não me surpreende a tia Clotilde e sua irmã Hortênsia quererem embarcar pra Europa, América do Sul ou Brasilsão afora a bordo de um ônibus leito com guia falando português. Acho certo. Elas não se interessam pelo trajeto exatamente, e sim por chegar. Nesse caso, se a questão é a comodidade - e aquela preguicinha inerente de certos humanos - a excursão vem a calhar. E vamos lá suportar a voz sonolenta do guia que descreve eventos desde a Idade Média pra embalar o nosso sono, ué.

O ruim mesmo da excursão (e, no meu caso, pelo menos, um verdadeiro "espalha roda"): embarcando numa dessas o roteiro não é seu, é de outrem. É um agente de turismo que escolhe as 12 cidades italianas onde o busão vai atracar e desembarcar a galera por 4 dias - por 5 minutos em cada lugar, sem muita onda de ficar observando e digerindo o monumento, o parque, o afresco. E corre, minha gente, que a barca já vai partir.

Pior que isso, só o fato de a maioria das excursões embutir paradas estratégicas naquela lojinha ou restaurante "conveniado". E aí a gente tem 13 segundos pra olhar a Torre de Belém por uma janela de ônibus, mas para por 2h40 na quitanda que vende doce de ovo. Eu sei que muitos gostam e tal, mas acho uma certa perda de tempo. E, mais grave, a gente perde o poder de escolha sobre parar ou não na tenda do doce de ovo, porque ao assinar a excursão isso vira ponto obrigatório.

Uma vez, quando visitei a Holanda e a Bélgica (e quem disser "credo, a BÉLGICA?" vai apanhar, que a Bélgica é um país legal e doce!) demos um drible no trem e decidimos embarcar em um ônibus turístico de Amsterdã até Bruxelas. Foi um belo golpe, porque saiu bem mais barato, foi mais confortável para lidar com as malas e ainda fizemos uma paradinha em Antuérpia - e não, eu nunca iria até a Antuérpia não fosse o ônibus parar lá, o que foi uma grata surpresa por aqueles 40 minutos.

Tudo foi ótimo até que, antes de fazer a parada final para desembarque, o guia decidiu parar numa loja de rendas. Juro, uma loja de rendas. Descemos do ônibus achando que tínhamos chegado e ó lá, uma montanha de toalhas de mesa, toalhas de mão, toalhas de banho - tudo com renda. Uma hora até todas as senhoras adquirirem seus lencinhos rendados e a gente poder chegar ao destino. Até hoje, quando eu vejo renda, me dá náusea.

Esse é o tipo de roubada que as excursões nos impõem. Por outro lado... bom, digamos que, a bordo das excursões da firma do Viajante Profissional, já passamos a frente de filas quilométricas só por estarmos em grupo; já adentramos vinícolas exclusivas, com tour de primeira linha e copo cheio por todo o percurso; já estivemos em castelos, museus e praias nos quais não teríamos estado não fosse a excursão ter exclusividade lá.

O recomendável para a maioria, acho eu, é avaliar bem que tipo de turismo se está fazendo. Não há razão, por exemplo, para estar de excursão em Paris. A língua não é obstáculo e tudo na cidade é muito simples de compreender e decidir (e pro caso de alguém não entender os avisos franceses, nos vagões mais antigos do metrô a gente precisa levantar a travinha da porta pra sair, tá bem? Informação de quem já perdeu mais de uma estação assim...). Ainda assim, se for o caso de sair do miolo da Cidade Luz para conhecer o palácio de Versailles ou castelos próximos, por exemplo, existem excursões de um dia cujos ônibus são confortabilíssimos, estacionam na entrada e o ticket já vai no preço. Vide http://www.pariscityrama.com.

É bem mais cômodo e certeiro do que passar a noite anterior com o nariz grudado no guia ou na internet tentando entender o RER que vai até o destino. Muitas vezes a perda de tempo não é a excursão, e sim os erros que vamos cometer no caminho até achar o maldito trem que desponta onde queremos. O melhor, assim, é ser versátil e embarcar na excursão conforme ela for conveniente. E simbora nanar ao som do guia sonolento.


Essa é uma cena de "Falando Grego", com a fofíssima Nia Vardalos como uma guia de excursão na Grécia. Só digo que o filme é safado, mas resume bem as alegrias/mazelas das excursões de turismo.


domingo, 3 de julho de 2011

Camelar ou vagabundear?

Toda vez que chega aquela boa oportunidade de dar uma escapada e viajar, vem logo a primeira dúvida: qual será a "pegada" dessas férias? Bunda na areia numa praia? Pança recheada num hotel tipo fazenda? Longas caminhadas pela metrópole afora? Festa radical em meio a trilhas, cordas, capacetes e aquela ideia masoquista de montar em uma bóia e se largar rio abaixo?

Escolher o mote da viagem fica, no fim das contas, entre duas possibilidade essenciais: se fazer de vagabundo ou se fazer de alucinado. Tem quem prefira a primeira opção; essas são as pessoas que, ao entrar em descanso, querem descanso DE FATO, sem gastar mais do que 28 calorias por dia (28 calorias essas que serão usadas apenas pra virar de lado na espreguiçadeira). É justo. Quem trabalha pra valer, sol a sol, se ferrando lindamente todo dia costuma preferir as férias vagabundas.

Nas férias vagabundas a gente só se alimenta do que estiver mais perto, só veste roupa que cabe na palma da mão, só faz exercício se esse exercício for se esgueirar até a piscina - e lá boiar. O bom das férias vagabundas é a certeza de voltar dela completamente renovado fisicamente. As dores do corpo aprisionado em ternos e sapatos fechados vão embora, cresce um pneuzinho delicioso nos flancos da barriga e até o cabelo tira uns dias de folga da chapinha. A contraindicação de férias assim é o banzo que vai dar na volta, quando a gente só conseguirá se lembrar de ter feito um sonoro nada.

Já as férias do outro tipo, as agitadinhas, congregam descanso-zero. Nelas a gente bate perna pra toda sorte de museu, restaurante, parque, monumento, igreja, escadaria ou faz tudo aquilo lá, os esportes radicais. É um tal de escalar pedra, escorregar na caverna, pendurar no cabo de aço, ralar joelho na terra, beber água de corredeira... Ufa. O corpo volta um caco - mas a mente, essa parece renovar cada ligação neurológica. Ao terminar, a gente só precisa fechar os olhos pra recordar feliz aquela linda estátua, aquele altar de ouro, aquele lago profundo, aquela luxação no dedão. É colocar a bolsa de água quente na lombar e curtir todas as novas referências.

Tanto um tipo de viagem quanto o outro tem suas vantagens. E cada tipo de pessoa curte mais ou menos cada uma delas. Tudo bem, tem gente que simplesmente odeia sentar de frente pro mar e passar a tarde na companhia de uma revista estúpida e uma piña colada, acha isso um desperdício; e tem quem deteste vestir sapatos confortáveis, segurar mapa e andar três horas pra encontrar uma maldita capela, acha isso uma babaquice. Mas eu acho que a melhor fórmula talvez seja intercalar.

Uns dias na preguiça no iníco do ano, uns dias de correria turística no meio dele... Quinze dias de dolce far niente no verão, quinze dias de compras, ingressos, mochilas e tênis reforçado na primavera. Que tal? Faz seu gênero? Taí uma dúvida boa de se ter.


Era tudo o que você queria? Ou faltam uns prédios aí?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Da última vez que vi Paris

Foi meio ligeira, a última vez que eu vi Paris. Foi só um final de viagem, por dois dias curtos, um frio que cortava a pele. Foi em 2006, quando levamos a nossa Sabrina, então com 1 ano e pouquinho, pra umas férias muito loucas da pesada na Europa. E Paris, mesmo assim tão rapidamente, se comportou tão bem.

Já tive a chance de percorrer a capital francesa por três vezes. Juntando tudo, acho que já passei uns 20 dias por lá. Mas nunca tive a pretensão de dizer que conheço Paris. Não, não. Conhecer Paris, acho, deve levar mais que uma vida. O que a gente pode fazer por lá - em férias de fato ou só de passagem - é visitar uns pontos focais e se encantar. Se encantar muito.

Os pontos de parada são aqueles lá: Museu do Louvre (há quem diga que precisa de três dias pra conhecer, mas, de novo, nem tenha essa pretensão e passe lá as três, quatro horas que os mortais aguentam caminhar e observar com atenção, sem fazer "leitura dinâmica" das obras); Museu D'Orsay (pequerrucho, se comparado ao Louvre, mas uma delícia de visitar justamente por ser assim, compacto e decidido, lindo quanto às obras e quanto ao prédio em si); Torre Eiffel (deixa de ser muquirana e paga o elevador até o topo, s'il vous plait?); Arco do Triunfo (tem escadinha interna que leva ao topo e a uma das melhores vistas da cidade, suba!); um giro na boemia de Montmartre; um giro no descolamento do Marais; um giro na pompa de Saint-Germain des Prés... Ah, olha, têm muitos giros mais.

Paris tem ainda museus mais exclusivos (como o Rodin e o Centro Pompidou), os jardins incrivelmente bem delineados (Tuileries é bacana, mas Luxemburgo é especial), praças de sonho (eu sou Place des Voges até morrer), restaurantes excelentes (e caros... e outros bons e baratos... e outros ruins e caros... bom, vai da tentativa-e-erro). Paris pode entreter até o cidadão mais chato do mundo com algum atributo. Impossível criar enfado em Paris.

Até porque, um dos melhores programas por lá não requer dinheiro nem conhecimentos específicos. O melhor programa nessa cidade, eu ainda acho, é caminhar. S'promèner, como eles dizem lá. Passear, flanar, sentir o vento no rosto ao passar por lojinhas de doces com 400 anos de vida ou esbarrar com não-tão-doces senhoras a caminho da padaria. Sentar na escadaria da Sacré Coeur e olhar a vista, debruçar na sua ponte favorita sobre o Sena e fazer planos.

E dá inclusive pra ir caminhar mais longe - num tour até Versailles, por exemplo, caminhar pelos jardins por mais de hora pensando no que aqueles reis tinham na cachola é a maior diversão.

Da última vez que vi Paris foi assim, só caminhadas, passeios no parque e um ponto focal ou outro. Ainda assim, valeu cada segundo. Por isso essa cidade é boa de constar no roteiro mesmo que só de passagem, por míseros dias ou horas até. Paris tem sempre lugar pra mais alguém que, sem conhecê-la, quer visitá-la.


Sabrina se encantando ligeiramente, muitos anos atrás