E mesmo que seja mico, que seja caro, que seja demorado. Se é do seu gosto, se estava no seu sonho, faça mesmo. Circular pelos canais de Veneza, por exemplo, é passeio que custa muito. Quando o gondoleiro de chapéu engraçado dá o preço, a sensação é de um lindo punhal italiano atravessando seu pulmão (dada a falta de ar causada pelo valor). Há quem diga, inclusive, que além de caro é meio ridículo. Ficar lá, sentado naquele banco de chenile meio gasto com um sujeito remando e um milhão de turistas nas margens olhando pra sua cara... É, pode ser tudo isso mesmo. Mas também é algo que fica impregnado na alma pra sempre.
O mesmo vale para os passeios de carruagem pelo Central Park. Calculo que, hoje, um tour de meia horinha acabe saindo por uns US$ 35. Caro? Caríssimo - ainda mais sabendo que meia hora passa como um tiro e que os cavalos... bem, cheiram a cavalo. Ainda assim, experimente colocar seu filho, sobrinho ou irmãozinho nessa roubada. Eles surtam de alegria por estar circulando por aquela cidade imensa a bordo de uma carrocinha toda rococó! Vale cada segundo.
Posso dizer que os passeios-clichê costumam atingir em cheio, principalmente, o turista com mais idade. Quando a gente tem 20, 25 anos, acha tudo isso uma cretinice. Espera mais um tempinho e você vai ver... Subir até o cucuruto da Torre Eiffel não vai mais parecer um calvário, e sim o sonho mais brilhante. Tirar foto no morro da Urca com o famoso bondinho de fundo não vai parecer estúpido, e sim uma diversão ímpar. É que, conforme os anos avançam, as pessoas ficam mais sinceras consigo mesmas - e estão pouco se lixando pro que a molecada vai pensar.
O negócio é simplesmente fazer aquilo que a mente e o coração sempre quiseram fazer, independente da opinião alheia. Quando fui para Amsterdã, muitos anos atrás, minha mãe estava junto. Ela fincou pé em dois programas: ir conhecer os moinhos (os três que sobraram, nos arredores da capital holandesa) e fazer um passeio de barco pelos canais. Eu achei aquilo mei brega, vou ser honesta. E depois? Depois lá estava eu, deslumbrada com a meiguice dos moinhos e fazendo uma genuína cara feliz pra foto dentro do barquinho. Fazer o quê? O clichê só é clichê porque seus méritos o levaram a isso, acho.
Então se no próximo destino você quiser subir até o topo do Empire State, vai nessa. A fila é escrota mesmo e custa os tubos (e, além disso, subir o Rockfeller Center é mais rápido, barato e... tem vista pro Empire State!). Mas se é do seu agrado, vai nessa. Se é do seu agrado, pague e curta um giro pela London Eye; se é do seu agrado, ignore o povo e vá mergulhar com os botos em Manaus; se é do seu agrado, faça pose com a Beyoncé no museu de cera! Quem sabe quando haverá outra chance de ser óbvio e ficar contente com isso?
É divertido, sim. E vê se não enche?