quinta-feira, 14 de julho de 2011

O bonde do turistão

Esse post já começa errado porque, a rigor, eu nunca embarquei de férias com um voucher de excursão em punho. Eu não deveria, desse modo, estar metendo a minha colher nessa farofa. Mas, ah, já fiz farofa semelhante, vá. Já fiz curtas excursões de bate-volta e aquelas viagens com a firma do meu marido, o Viajante Profissional, na cola. Eis, então, que me acho apta a falar sobre viagens com excursão embutida, seus prós e contras.

Bom, a bem da verdade eu nunca embarquei em excursões porque tenho coceira só de pensar nelas. Tinha, pelo menos. No momento, tento ser mais mente aberta. Excursões são formatos cabíveis de viagem, acho, para aquelas pessoas que ficam muitíssimo inseguras de rodar 26 países em cinco dias sem saber tomar trem ou pedir café em alemão; excursão pode não ser pra mim ou pra você, turista que curte estudar os mapinhas e vasculhar formas de "sair daqui e chegar lá" por sua conta, no horário que bem entender, parando onde seus pés requisitarem. Mas excursões têm seu valor.

Não me surpreende a tia Clotilde e sua irmã Hortênsia quererem embarcar pra Europa, América do Sul ou Brasilsão afora a bordo de um ônibus leito com guia falando português. Acho certo. Elas não se interessam pelo trajeto exatamente, e sim por chegar. Nesse caso, se a questão é a comodidade - e aquela preguicinha inerente de certos humanos - a excursão vem a calhar. E vamos lá suportar a voz sonolenta do guia que descreve eventos desde a Idade Média pra embalar o nosso sono, ué.

O ruim mesmo da excursão (e, no meu caso, pelo menos, um verdadeiro "espalha roda"): embarcando numa dessas o roteiro não é seu, é de outrem. É um agente de turismo que escolhe as 12 cidades italianas onde o busão vai atracar e desembarcar a galera por 4 dias - por 5 minutos em cada lugar, sem muita onda de ficar observando e digerindo o monumento, o parque, o afresco. E corre, minha gente, que a barca já vai partir.

Pior que isso, só o fato de a maioria das excursões embutir paradas estratégicas naquela lojinha ou restaurante "conveniado". E aí a gente tem 13 segundos pra olhar a Torre de Belém por uma janela de ônibus, mas para por 2h40 na quitanda que vende doce de ovo. Eu sei que muitos gostam e tal, mas acho uma certa perda de tempo. E, mais grave, a gente perde o poder de escolha sobre parar ou não na tenda do doce de ovo, porque ao assinar a excursão isso vira ponto obrigatório.

Uma vez, quando visitei a Holanda e a Bélgica (e quem disser "credo, a BÉLGICA?" vai apanhar, que a Bélgica é um país legal e doce!) demos um drible no trem e decidimos embarcar em um ônibus turístico de Amsterdã até Bruxelas. Foi um belo golpe, porque saiu bem mais barato, foi mais confortável para lidar com as malas e ainda fizemos uma paradinha em Antuérpia - e não, eu nunca iria até a Antuérpia não fosse o ônibus parar lá, o que foi uma grata surpresa por aqueles 40 minutos.

Tudo foi ótimo até que, antes de fazer a parada final para desembarque, o guia decidiu parar numa loja de rendas. Juro, uma loja de rendas. Descemos do ônibus achando que tínhamos chegado e ó lá, uma montanha de toalhas de mesa, toalhas de mão, toalhas de banho - tudo com renda. Uma hora até todas as senhoras adquirirem seus lencinhos rendados e a gente poder chegar ao destino. Até hoje, quando eu vejo renda, me dá náusea.

Esse é o tipo de roubada que as excursões nos impõem. Por outro lado... bom, digamos que, a bordo das excursões da firma do Viajante Profissional, já passamos a frente de filas quilométricas só por estarmos em grupo; já adentramos vinícolas exclusivas, com tour de primeira linha e copo cheio por todo o percurso; já estivemos em castelos, museus e praias nos quais não teríamos estado não fosse a excursão ter exclusividade lá.

O recomendável para a maioria, acho eu, é avaliar bem que tipo de turismo se está fazendo. Não há razão, por exemplo, para estar de excursão em Paris. A língua não é obstáculo e tudo na cidade é muito simples de compreender e decidir (e pro caso de alguém não entender os avisos franceses, nos vagões mais antigos do metrô a gente precisa levantar a travinha da porta pra sair, tá bem? Informação de quem já perdeu mais de uma estação assim...). Ainda assim, se for o caso de sair do miolo da Cidade Luz para conhecer o palácio de Versailles ou castelos próximos, por exemplo, existem excursões de um dia cujos ônibus são confortabilíssimos, estacionam na entrada e o ticket já vai no preço. Vide http://www.pariscityrama.com.

É bem mais cômodo e certeiro do que passar a noite anterior com o nariz grudado no guia ou na internet tentando entender o RER que vai até o destino. Muitas vezes a perda de tempo não é a excursão, e sim os erros que vamos cometer no caminho até achar o maldito trem que desponta onde queremos. O melhor, assim, é ser versátil e embarcar na excursão conforme ela for conveniente. E simbora nanar ao som do guia sonolento.


Essa é uma cena de "Falando Grego", com a fofíssima Nia Vardalos como uma guia de excursão na Grécia. Só digo que o filme é safado, mas resume bem as alegrias/mazelas das excursões de turismo.


domingo, 3 de julho de 2011

Camelar ou vagabundear?

Toda vez que chega aquela boa oportunidade de dar uma escapada e viajar, vem logo a primeira dúvida: qual será a "pegada" dessas férias? Bunda na areia numa praia? Pança recheada num hotel tipo fazenda? Longas caminhadas pela metrópole afora? Festa radical em meio a trilhas, cordas, capacetes e aquela ideia masoquista de montar em uma bóia e se largar rio abaixo?

Escolher o mote da viagem fica, no fim das contas, entre duas possibilidade essenciais: se fazer de vagabundo ou se fazer de alucinado. Tem quem prefira a primeira opção; essas são as pessoas que, ao entrar em descanso, querem descanso DE FATO, sem gastar mais do que 28 calorias por dia (28 calorias essas que serão usadas apenas pra virar de lado na espreguiçadeira). É justo. Quem trabalha pra valer, sol a sol, se ferrando lindamente todo dia costuma preferir as férias vagabundas.

Nas férias vagabundas a gente só se alimenta do que estiver mais perto, só veste roupa que cabe na palma da mão, só faz exercício se esse exercício for se esgueirar até a piscina - e lá boiar. O bom das férias vagabundas é a certeza de voltar dela completamente renovado fisicamente. As dores do corpo aprisionado em ternos e sapatos fechados vão embora, cresce um pneuzinho delicioso nos flancos da barriga e até o cabelo tira uns dias de folga da chapinha. A contraindicação de férias assim é o banzo que vai dar na volta, quando a gente só conseguirá se lembrar de ter feito um sonoro nada.

Já as férias do outro tipo, as agitadinhas, congregam descanso-zero. Nelas a gente bate perna pra toda sorte de museu, restaurante, parque, monumento, igreja, escadaria ou faz tudo aquilo lá, os esportes radicais. É um tal de escalar pedra, escorregar na caverna, pendurar no cabo de aço, ralar joelho na terra, beber água de corredeira... Ufa. O corpo volta um caco - mas a mente, essa parece renovar cada ligação neurológica. Ao terminar, a gente só precisa fechar os olhos pra recordar feliz aquela linda estátua, aquele altar de ouro, aquele lago profundo, aquela luxação no dedão. É colocar a bolsa de água quente na lombar e curtir todas as novas referências.

Tanto um tipo de viagem quanto o outro tem suas vantagens. E cada tipo de pessoa curte mais ou menos cada uma delas. Tudo bem, tem gente que simplesmente odeia sentar de frente pro mar e passar a tarde na companhia de uma revista estúpida e uma piña colada, acha isso um desperdício; e tem quem deteste vestir sapatos confortáveis, segurar mapa e andar três horas pra encontrar uma maldita capela, acha isso uma babaquice. Mas eu acho que a melhor fórmula talvez seja intercalar.

Uns dias na preguiça no iníco do ano, uns dias de correria turística no meio dele... Quinze dias de dolce far niente no verão, quinze dias de compras, ingressos, mochilas e tênis reforçado na primavera. Que tal? Faz seu gênero? Taí uma dúvida boa de se ter.


Era tudo o que você queria? Ou faltam uns prédios aí?