quinta-feira, 28 de abril de 2011

Um programa debaixo d'água

Se tem um passeio bacana de fazer em algumas cidades espertas do mundo, esse passeio é conhecer aquários. Mas nada de ver aqueles estabelecimentos mirrados, com tanques esverdeados repletos de sardinhas tristes. Esses são maracutaia pra atrair turista bobo e explorar e arruinar a vida de bichinhos nadadores indefesos. Legais são os mega-aquários, aqueles que funcionam como cidades, cuidam muito bem de seus moradores e ainda ensinam a galera sobre a importância de respeitar os povos d'água.

Tem, por exemplo, o Oceanário de Lisboa, que funciona como um museu vivo sobre a vida marinha e lotadinho de tubarões, arraias e aqueles bichões todos. Tem também o L'Aquarium Barcelona, lindíssimo e modernão, com um túnel sub de 80 metros pra gente caminhar dentro e fingir de peixe.

Dos que visitei, o aquário da cidade de Monterey, na Califórnia, talvez seja o mais legal. Primeiro porque tem os imensos tanques onde a gente vê diversas espécies - inclusive um tanque principal, oceânico, com animais enormes, cardumes e um troço esquisitíssimo, o peixe-lua, que é coisa da pré-história e dá um certo nervoso. É muito divertido ver as lontras brincando e também as águas-vivas de todos os tamanhos (algumas grandes como um escorredor de macarrão e lindamente alaranjadas).

Um dos pontos mais interessantes, no entanto, é o tanque aberto no qual a gente pode tocar em bichinhos como estrelas-do-mar e/ou dar comidinha na boca das arraias. Tudo o que se quiser saber pode ser prontamente respondido por velhinhos simpáticos que trabalham ali como voluntários - para a criançada, uma fabulosa troca de informações inter-idades.

Existe ainda aquele da cidade de Atlanta, nos EUA. O Georgia Aquarium é considerado o maior do mundo e foi aberto em 2005 com seus 30 milhões de litros de água coalhada por mais de 100 mil animais. O tanque princial do GA é um dos poucos do mundo a contar com tubarões-baleia, aquela coisa descomunal. E no local ainda se podem ver pinguins e focas, aquelas fofurinhas.

Aquários, com o perdão do clichê, são diversão pra família inteira. São bonitos, são interessantes, são divertidos, socam alguma informação nova pra dentro do nosso ser a cada visita. E ainda podem ensinar bons costumes para as crianças, que um dia vão tomar conta das nossas águas. Confesso que eu me ressinto bem de o Brasil não ter um suuuper aquário bonito pra mostrar.

Têm alguns aqui e ali - e parece que na cidade de Fortaleza há um projeto de aquário quase ganhando vida. Tomara que vire mesmo. E quem sabe um dia a gente vai estar esculhambando e fazendo como o pessoal de Fiji, que nem faz questão de trazer os bichos pra cima, mas sim de mandar os viajantes pra baixo. No Poseidon Undersea Resort, a hospedagem acontece mar adentro - e o pessoal dorme, janta e etc. com o oceano todo em volta pela bagatela de US$ 30 mil para o casal pela semana.

Meio claustrofóbico? Ué, os peixinhos aceitam isso em várias cidades do mundo só para nos mostrar parte do seu modo de vida. Nada mais justo que mostrar respeito e inverter um pouco a diversão.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Gente como agente

Eu acreditava que agente de turismo era como personagem do folclore, como o boitatá ou a mula-sem-cabeça - sabia que muitos já tinham visto, mas nem considerava a existência deles. Eu estava bem enganada.

O caso é que, sempre que eu telefonava em agências de turismo por um motivo ou outro - em geral, só pesquisando os preços praticados pra decidir mais tarde - era atendida por mocinhas displicentes, desmotivadas e meio desinformadas. Nunca sabiam direito se esse ou aquele hotel eram bem localizado, se existia vôo direto ou só com escalas, se era melhor alugar carro ou ir de trem. Ficava claro que o caso ali era vender pacotes, não guiar o viajante. Não tinham muito saco pra ser agentes.

Até que um dia, checando preços para férias no Nordeste, encontrei a Carol. Foi pura sorte, eu admito: liguei no PABX e a recepcionista passou para quem estava livre. Estava a Carol. A Carol, desde então, faz cotação pra todo canto que eu decido ir. Algumas vezes eu fecho com ela, outras vezes não. Ela sabe disso. E nós duas sabemos que, mesmo quando o preço dela não é o melhor, ainda há imensa chance de que eu assine com ela assim mesmo - porque a Carol cota preços muito rápido, conhece os destinos, sugere opções, faz tudo por escrito, dá descontinho quando pode. Ela facilita.

E o agente de viagem, desde que seja bom, pode quebrar galhíssimos ao preparar uma viagem. O agente, ao contrário de nós humanos, tem números mágicos que, se inseridos corretamente, acham vagas em aviões, acham tarifas promocionais e acham quartos de frente pro mar com o mesmo preço do quarto com frente pro muro. E, já no destino, mesmo por telefone, às vezes nos salvam de belas roubadas.

Um bom agente acaba ficando nosso chapa - e quando a gente indica o trabalho dele pra outros, ele ganha mais clientes e fica feliz. Porque agente bom tem clientes, não é um mero atendedor de telefone que cospe preços e depois te esquece.

Quando planejamos viajar com milhagem ou ficando em casa de amigos etc., muitas vezes o agente não faz diferença. Eu demorei a atentar pro trabalho deles por isso - passei muito tempo viajando com milhas e tal, e então era eu mesma minha agente. Mas quando entra em cena o pacote, ter um agente passa a ser vantagem (ainda que isso não deva isentar o bom viajante de pesquisar por conta, hein?).

Claro, isso se o agente for do tipo que pesquisa mesmo, que aceita reservar os hotéis que você mesmo pesquisou e achou bons, que é flexível e entende seu estilo de viajar. A Carol nem pergunta mais se eu quero meia pensão. Ela sabe que eu janto em hotel na boa e não arrasto criança cansada pra berrar em restaurante à noite.

Amanhã começa o feriado e eu acho que, se você ficou sem planos, custa nada ligar agora em umas agências,  fazer uns amigos e saber se rolam umas vaguinhas de última hora. Custa nada conhecer gente nova - ou agente nova.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Eles quebram, a gente se vinga

Já tive malas extraviadas na família e sei que isso pode causar uma comoção como poucas coisas na vida. Extraviada na ida, custo alto de reposição dos pertences; extraviada na volta, o caos, o sofrimento e a penúria de perder o terço comprado no Vaticano pra Tia Celeste. Mas avaliando bem, pior que ter a mala perdida - ah, convenhamos, aquele pijama era um trapo mesmo e já foi tarde! - é ter um bem avariado pela companhia aérea.

Porque, muitas vezes, a coisa não pode ser reposta. Tudo bem tentar comprar um novo carrinho de bebê com a indenização que a empresa pagará por aquela que ela esmigalhou, mas e algo mais pessoal e precioso? A sua guitarra, por exemplo?

Pois teve um músico norte-americano que, despojado compulsoriamente de seu objeto de trabalho pela United Airlines, decidiu tomar providências. Ignorado e mal-atendido pela companhia, ele renovou sua alma de um jeito mais criativo: compôs, gravou e veiculou pela internet a canção "United Breaks Guitars" ("A United Quebra Guitarras"). Simples e direto, precisa nem entender inglês tanto assim pra sacar o que a companhia fez com ele.

O video nem é novo, mas eu quis dividir - e lembrar a todos de embalar muito bem seus instrumentos musicais ao voar pela supracitada empresa aérea.


Letra e ritmo tão bons que a gente fica cantando horas!
Pena ser uma história tão triste...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

As cinco grandes besteiras...

... que a gente faz ao arrumar a mala

Na verdade, acho que a maioria de nós faz muito mais do que cinco grandes, enormes e rechonchudas besteiras quando arruma a bagagem para viajar. Estas, porém, são as mais grosseiras - e acontecem democraticamente tanto pra viagem para ali pertinho quanto pra volta ao mundo.

1. Levar mais do que dois pares de sapatos
Tem aquele que será usado ostensivamente (botinas no trekking nepalês ou chinelo em Jeri, por exemplo), aquele semi-ajeitado pro caso de um evento noturno em volta da fogueira ou no restaurante e... pronto! Pra que mais? Bom, tem que discorde e queira levar o salto alto, a melissinha, o social de verniz, a pantufa do Pateta... Precisar, não precisa - e, te dizer, tem nada mais diabólico do que tentar acomodar sapatos na bagagem.

2. Lotar a dita cuja na partida
Daí, já para sair de casa, é preciso sentar no tampo e fazer pressão de parturiente para lacrar a desgramada. E eu pergunto: ao chegar em Acapulco, onde vai caber o sombrero adquirido? Ou os vidros de doces em Tiradentes? Ou o fardo de tecidos de Nova Déli? Sair de casa já com a mala no limite é bobagem, porque sempre a gente vai querer comprar um coisinho a mais e não haverá espaço pra ele (até porque a roupa suja da viagem parece triplicar de tamanho na volta). E toca se avexar na loja de bagagem pra comprar mais uma unidade.

3. Levar itens que podem ser comprados no destino
Eu sei, porque eu fui a débil que levou para a Itália a mala da criança forrada com pacotes de fraldas, latas de leite, o sabonetinho e itens similares. Até que, pra me mostrar como a vida é pra ser vivida e não ticada numa listinha, o destino se encarregou de extraviar a mala da Sabrina. E aí? Aí a gente vai na farmácia, se dirige à prateleira pretendida e escolhe tudo de novo. E aí a gente descobre que tudo lá, mesmo em Euro, custa mais barato e tem qualidade 87 vezes melhor. E aí a gente para de viajar com a mala plena de tubos de xampu, condicionador, etc. Agora paro logo na farmácia em cada viagem e faço uma feirinha. Nunca me arrependi e já arrematei coisa boa que só vendo.

4. Esquecer o kit de remédios
Por outro lado, deixar pra trás os medicamentos que estamos acostumados a tomar é uma falha grandona. No exterior, pior que aqui, comprar remédio é impossível sem receita - e vai você explicar pro médico tcheco que está sentindo uma dor entre o esôfago e o estômago? Pra não entrar na mímica, o melhor é fazer uma sacolinha que contenha pelo menos algo pra dor de cabeça, pra dor de barriga, pra resfriado e pra tudo o que costuma te acometer - no meu caso, eu não saio sem um relaxante muscular, porque minhas costas adoram fazer graça; meu marido, o Viajante Profissional, esquece o dinheiro mas não esquece seu remédio contra cólica renal. Cada um com seus achaques - e suas pílulas.

5. Escolher um modelo estúpido de mala
Parecia bonito na loja, né, aquela coisa rígida, imensa e rosa-choque, tão linda, tão Barbie. Pois a maldita é estreita, tem uma alça retrátil pra carregar, não faz curvas e bambeia quando a gente precisa correr. Nos dá a sensação de estar levando um guepardo na coleira, não a bagagem. Isso significa que escolhemos a mala errada. A certa para em pé sozinha, tem fácil acesso por zíperes, se desloca com rodinhas independentes, tem alça que para erguida ou recolhida. E pode até ser rosa-Barbie, mas esse não é seu principal atrativo. Chegar no destino sem dar trabalho é que é.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Nem parece uma companhia aérea

Sabe quando a gente fala que foi para São Francisco, Califórnia, e emenda logo um "olha, nem parece Estados Unidos, viu..."? Voar pela empresa Virgin rende quase o mesmo subtítulo usado por gente nojentinha.

Nos aviões da Virgin os assentos são tão ínfimos quanto em qualquer outra companhia (e a desagradável sensação de estar a uma distância crítica do cabelo da pessoa da frente também aparece ali). Fora isso, porém, a Virgin tenta ser mais moderna.

O lanche de bordo é pago - e isso seria ruim, não fosse o fato de haver opções supergostosas, fresquinhas e bem apresentadas. Basta checar na telinha da sua poltrona (porque todas têm) o cardápio, selecionar a escolha, passar o cartão ali mesmo, no dispositivo acoplado, e em minutos a comissária traz o pedido. Melhor do que levar de graça uma cumbuca de lasanha que consegue a proeza de ser seca e gosmenta ao mesmo tempo, vai?

A telinha ainda dispõe de diversos canais de filmes e de emissoras de TV - dá pra ver desenhos no Cartoon ou notícias na CNN. E é por ela, também, que chega a ideia mais simples e mais bacana da Virgin.

Todas aquelas recomendações que as comissárias costumam dar antes do vôo são concentradas pela Virgin em um video de segurança divertidíssimo - e muito completo, muito bem produzido e muito mais útil do que tentar entender uma voz que sai desgraçadamente de um alto-falante porco, como no século passado. O vídeo tem todas as informações que qualquer passageiro precisa e, de tão gracinha, cativa a atenção de todos pelos seus 4 minutos. Ou seja, mais eficaz também.

Acho bom quando as companhias aéreas começam a ver que o povo não precisa ser tratado como gado e inovam, ainda que só um bocadinho. Desejo que o movimento continue. E quem sabe um dia a gente consiga viajar de avião sem roçar excessivamente no corpo de gente desconhecida.



Minha parte favorita é a da freira

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Turista, mas com jeito de nativo

É sério, tentar se passar por um morador local ao viajar para longe é muito difícil. É difícil até viajando para perto - vai o paulistano da gema se meter a soteropolitano, pra ver o trabalho que dá. E essa nem é uma tentativa válida mesmo. Ao viajar, querer se vestir, falar ou agir como um local não tem uma utilidade prática (e me poupe de besteiras do tipo "ai, credo, vai que notam que eu sou brasileiro"). Há um modo, porém, de se sentir mais ligado ao lugar que se visita: deixar o hotel de lado e apostar no aluguel de curto período.

Alugar casas ou apartamentos no estilo "short therm" já é uma prática comum para muitos viajantes - europeus, por exemplo, apreciam muito essa forma de se hospedar. Lá no Velho Mundo, aliás, é muito fácil encontrar sites que fazem a intermediação do negócio. Os melhores são os que usam o respaldo de imobiliárias para operar (o que dá mais garantias ao usuário em caso... bem, de as fotos e descrições se mostrarem pura ficção).

O ganho principal é bem óbvio: enquanto um hotel de três estrelinhas em Paris pode custar algo em torno de 200 euros ao dia, por exemplo, um apartamento alugado pode sair por 700 euros pela semana toda. Num exemplo como esse, o espaço do apartamento é em geral maior que de um quarto da hotelaria - contando, além do quarto, com ao menos sala, cozinha, banheiro. Quem sabe até uma varandinha pra se encantar com o movimento.

Em Buenos Aires, a coisa também funciona - e é quase uma pechincha difícil de acreditar. Apartamentos de dois quartos, que acomodam até quatro pessoas e contam com as facilidades de uma casa, chegam a custar algo em torno de US$ 600 pela semana inteira. Em um hotel de mais gabarito na capital portenha, gasta-se isso facilmente em uma noite.

A prática vem se tornando comum para muitos viajantes que já se cansaram da cara impessoal dos hotéis. E também para aqueles que curtem ir aos mercadinhos revistar prateleiras e entender o gosto local ao cozinhar. E também para quem gosta de sair de casa para ver algo novo, mas também gosta de manter o hábito de ir comprar o jornal no sábado e lê-lo calmamente na varanda bebericando um café feito por si mesmo.

Pode não ser uma boa ideia, por outro lado, para quem viaja e gosta de ter sua cama feita pela doce camareira ou acha muito mais negócio apanhar o telefone no criado-mudo e pedir um misto-quente pronto!

O certo é que, optando pelo aluguel nas férias, é grande a chance de sentir mais fundo o gostinho de viver numa cidade que não é a sua. E ficar mais local a cada "bom dia" para os vizinhos.

Para uma pesquisa, se for do seu agrado: http://www.parisattitude.com/, http://www.bairesapartments.com/, http://www.rentalinrome.com/, http://www.barcelonaforrent.com/, http://www.foxtons.co.uk/.


Vai um puxadinho em Londres?