terça-feira, 2 de agosto de 2011

Para minha tia - e a quem interessar possa

Minha tia Maria Inês partiu, semanas atrás, para sua primeira investida européia. Mãe dedicada de três gigantes, esposa amorosa e figuraça ímpar, a minha tia estava apreenssiva ao telefone quando liguei pra desejar dias incríveis. Normal pra uma primeira saída dessas. Tentei explicar que, lógico, tudo daria certo, mandei minhas good vibes e me dispus a escrever umas linhas de dicas pra ela, caso sobrasse tempo entre uma fila e outra (verão europeu... até dá saudades da zorra que fica aquilo). Ela aceitou de bate-pronto - e o relato que corre abaixo seguiu com a minha tia Velho Mundo afora.

Ela voltou tem alguns dias e ainda não nos falamos ao vivo, mas soube por outros que ela amou cada segundo. E que meu guia mixuruco, olha só!, foi parar nas mãos de coleguinhas de excursão da tia que curtiram bastante as indicações e me agradeceram por isso. Quanta honra pra uma pobre escrevinhadora, fiquei feliz mesmo.

Daí eu decidi que, ué, se um povo que eu nem conheço curtiu as obviedades, talvez o leitor aí tenha também um tio ou tia de partida pra um tour europeu e queira repassar. Ou, sei lá, você aí está querendo viajar sem sair da cadeira só por hoje, enquanto seu chefe não tá olhando... Fazer assim? Então segura na minha mão, finge que é minha tia Maria Inês e embarquemos em um roteiro pelas cidades mais carimbadas da Europa. Bora?

Paris
Como disse pra você, Tia, eu acho Paris um dos melhores lugares do mundo pra caminhar, olhar as pessoas, curtir sem pressa. Joie de vivre, saca? Bom, uma vez caminhando, claro que vocês devem querer ir:

No Louvre - bobagem querer ver tudo, impossível e dá um cansaço incrível. Passando umas três horas, uma tarde, dá pra selecionar no mapinha o que é mais do gosto e ver o que dá. Só não perca a sala de esculturas onde está O Beijo de Cupido e Psique, que é lindo.

Museu D'Orsay - pequenino e muito lindo. Só o prédio já vale a visita, porque era uma estação de trens e é tudo maravilhoso lá dentro. Destaque para as pinturas, os Monets mais encantadores.

Arco do Triunfo - é legal caminhar pela avenida Champs Elysée até o arco. Ele fica na etoile, a rotatória mais bonita que existe! Tem passagem subterrânea até ele e, uma vez lá, tentem subir os degraus (muitos...) até o topo, que a vista é simplesmente incrível.

Torre Eiffel - tem que subir, viu? TEM! Até o topo. O elevador custa uns trocos, mas vale a pena. A fila é indecente, mas perseverem.

Comida! - olha, é caro comer (bem) em Paris, não vou mentir. Em geral a gente procura uns restaurantes pequenos onde têm sanduíches ou aposta na Gallerie Lafayette. Sim, é uma loja de departamentos gigante - e, lá no topo dela, tem um restaurante tipo bandejão muito bom. Notem que a garrafinha pequena de vinho custa menos que a Coca-Cola! Como não amar?

Passeios! - eu adoro cada praça de Paris a ponto de querer virar mendiga lá só pra dormir naqueles bancos! Recomendo irem à Place des Vosges, no bairro do Marais, a mais bonita. E também ao Jardin de Luxembourg. E a Tulleries, aquele que fica em frente do Louvre. Além disso, acho que vale passear longamente no bairro de Montmartre (alô, assistiu Amelie Poulain? Tudo lá!). A igreja de Sacre-Coeur é linda (por fora, não entrei) e o bairro todo é uma delícia. Peguem o funiculaire (bondinho) pra chegar lá, que a subida é assassina.


Veneza
Tudo o que eu digo sobre Veneza é que parece aquelas cidadezinhas colocadas dentro da bola de vidro com água, aquelas que a gente guarda na estante. É outro mundo, diferente de tudo. Por isso mesmo lá não adianta nada querer olhar mapas... O negócio é ir pelos becos vendo tudo o que passa e seguindo as plaquinhas da ponte Rialto, da Estação ou da Pizza San Marco. Olhando as placas, vocês chegam! E se virem algo no caminho e quiserem comprar, comprem na hora, porque achar de novo o mesmo lugar é quase impossível.

Gondola! - façam o passeio. Custa uma facada, mas vale a memória pra sempre.

Piazza San Marco - vale o giro pela praça em si, vale entrar na catedral (reparem nos mosaicos no chão instável, que loucura) e vale ir no Palácio dos Doges também (eu tive um pouco de nervoso, mas é legal ver a Ponte dos Suspiros por dentro). Tomem um cafezinho num dos dois cafés das laterais. É icônico.

Comida! - Veneza tem culinária baseada nos frutos do mar - e são incríveis. Ao lado da ponte Rialto eu comi um macarrão com molho branco com lagosta que está no Top Ten das melhores coisas que já comi na vida.


Florença
Lindíssima e, em geral, abarrotada de turistas. Difícil fugir, porque eles estão em quase toda parte. Mas o melhor de Florença é isso mesmo, saber que ela atrai gente há centenas de anos e continua lá, doce e singela. Recomendo pacas:

Galleria dell'Accademia - onde está a estátua original do Davi (do irritadinho Michelangelo). É o ponto focal do lugar. E a fila é escandalosa, cheguem cedo. Ou comprem os tickets antecipadamente (sei que tem jeito de fazer isso pela internet pra Accademia e para a Galeria Uffizi, mas como nunca fiz não sei como proceder. Só sei que vale ir!).

Ponte Vecchio - é só uma passagem sobre o rio com lojas por toda a extensão. Mas é uma belezura.

Duomo - nunca entrei, porque também tem fila demais. Mas dizem que ela é o contrário do Duomo de Siena: em Florença, é trabalhada por fora e "clean" por dentro; em Siena é sem graça por fora e linda por dentro.

Giardino di Boboli - fica a uma boa caminhadinha desde a Ponte Vecchio. O museu que tem lá não importa muito, o legal mesmo é o imenso jardim com fontes, vielas pra passear, laguinhos e muitos artistas desenhando o que vêem. É poético.

Gilli - a cafeteria fica na Piazza della Republica, bem no miolo da cidade, e funciona ali, dizem, desde 1733! Eu sei que vai estar calor, mas foi o melhor chocolate quente que eu tomei na vida, parecia lava doce.


Roma
É minha, tá? Minha cidade, pode tirar os olhos! Mas tudo bem, que um dia eu vou morar lá e convido vocês pra me visitarem. Roma é simplesmente um dos lugares mais especiais da Terra, tia. Porque é zoada, porque é barulhenta, porque é inusitada. Porque tem personalidade. E como indicar coisas a fazer em Roma, caramba... Eu precisei ir três vezes pra ver só uma parte. Então vocês escolhem o que é mais legal.

Scalinata di Spagna - começo por ela porque, ave, que coisa incrível ver gente do mundo todo se aglomerar numa modesta escadaria. Bom, nem tão modesta, que é enorme. E é a coisa mais romana sentar ali, tomar gelatto, beber água da Fontana della Barcaccia (podem beber, as fontes de Roma são potáveis na maioria. E geladinhas, e deliciosas, e placam o calor... nhami!).

Fontana de Trevi - é só tomar cuidado pra outro turista não lhe arremessar uma moeda bem na cara que o passeio vai bem. Sim, porque ela está sempre, o dia todo, lotada. Mas tem que ir, tem que jogar a moeda e tem que apreciar o trabalho de Bernini, o escultor que era um deus.

Piazza Navona - três fontes lindas, uma praça gigante... vão, tirem as melhores fotos, riam com as estátuas vivas esquisitonas e não deixem de ir dali até Campo dei Fiori, onde tem a feira livre e muitas bibocas ótimas pra almoçar. Fica perto também do Pantheon, que é muito bacana de conhecer (com aquela abertura no teto e a luz que entra... coisa mágica).

Vaticano - bom, eu nem sou a maior carola do pedaço, mas achei um passeio incrível. Aquela Basílica, mio Dio... Fiquei horas lá dentro só apreciando o aspecto artístico. É bom chegar cedo, porque é outro ponto sempre tumultuado de gente. Mas se forem à tarde, tudo bem também. O bom é que a fila do Museu do Vaticano, logo ao lado, pode estar bem menor - e é PRECISO entrar lá por causa da Capela Sistina. Ai, ai, quem perder a Capela Sistina apanha de mim.

Outra igrejas - informo as minhas prediletas pessoais, mas são tantas que vocês mesmos vão achar suas preferidas: Gesú (grandiosa), San Pietro in Vincoli (dura de achar, num beco miúdo, mas é onde está o Moisés); Santa Maria Sopra Minerva (que tem um teto azul legal demais).

Parque - eu acho que todo mundo deveria passar umas horas na Villa Borghese, fazendo piquenique, só pra se sentir mais vivo que nunca.

Coliseo e Forum - Pra ver ambos bem vistos leva quase um dia todo. Mas vale a pena. É como estar no túnel do tempo, só esperando o leão sair da grade e vir pro pau ou as sacerdotisas sairem dos templos pra bater um papo. Não tenham pressa, curtam o clima, essa é a viagem.

Comida! - o bom de Roma (precisava mais?) é que qualquer restaurantinho pequerrucho tem uma comida boa, honesta, saborosa. Vão na fé - e procure os lugares onde tiver mais gente falando italiano, sempre dá certo. Ah! E saiam alguma noite para jantar no Trastevere, o bairro dos restaurantes bons e da galera. É divino. E depois queimem o excesso de comida numa boa caminhada ao longo do rio Tevere. E me levem no pensamento, que pra mim isso já é um prazer. Boa viagem, tia!


Deixem que eu guie todos vocês? Pra sempre?


4 comentários:

  1. Aí, Flávia! Lembrei daquele mapa de Roma e das indicações... do Golden... é mesmo A cidade.

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  2. Ai, Juri, eu lembro mais ainda (e ainda hoje me dá vontade de chorar de lembrar da minha primeira visão de Roma, pleno ano 2000). Aliás, lembro dela, lembro de ti! Só não sei mais do Golden - que parece que mudou de donos.
    Um dia vamos juntas, pode ser? :-]

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  3. Flá, adorei o miniguia! Vou guardar pra quando for me aventurar pelo Velho Mundo. :-)

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  4. Qual a tua milhagem, Flávia Pegorin? Se conhecimento de causa valesse algo no Planalto, eu te indicaria para embaixadora em Roma.
    A sugestão de ir aonde mais se fala italiano, para comer bem, é balizar. Ninguém mais do que o nativo sabe onde se come bem e onde se pagam os karmas por intoxicação alimentar.
    Tenho uma amiga (tem perfil no FC, Eddie Van Feu) que está organizando uma excursão à Irlanda para bruxos e simpatizantes. Infelizmente não pude integrar, porque pelo roteiro será do balacobaco!

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