segunda-feira, 10 de junho de 2013

Reportagem - Washington DC

Vou disponibilizar aqui, de vez em quando, algumas reportagens que fiz no glorioso ramo do turismo. A primeira delas, uma que deu capa no ano passado. Espero que aproveitem!



Washington, a eleita
por Flávia Pegorin
Revista Viajar pelo Mundo
Setembro 2012 - edição nº 38

Às vésperas de mais uma eleição presidencial nos Estados Unidos, a capital do país mostra por que seduz não apenas os políticos, mas também os turistas


Como é possível convencer alguém a trocar destinos turísticos consagrados como Nova York, Miami e Los Angeles por um lugar onde os famosos não são atores nem personagens infantis, mas sim políticos? Esse é o desafio de quem conhece e se apaixona por Washington, a capital dos Estados Unidos, uma opção bem diferente de viagem da terra do Tio Sam. No próximo dia 6 de novembro, a eleição presidencial americana determinará a permanência de Barack Obama por ali ou a chegada de seu adversário, Mitt Romney. E, de quebra, colocará a cidade mais uma vez em evidência para todo o mundo. Seja qual for o novo mandatário da nação, essa exposição toda na mídia só deve ajudar a capital a ganhar seus próprios cabos eleitorais.

Quem viaja para lá quase sempre se surpreende a ponto de fazer campanha por essa metrópole que agrega 6 milhões de pessoas em si e nos seus arredores. Se você duvida do poder sedutor de Washington, saiba que ela é o oposto do que se costuma imaginar sobre política: limpa, certinha e organizada. Herança de seus idealizadores – os responsáveis pela independência dos Estados Unidos, ávidos por construir um país moderno, prático e racional.

A cidade surgiu em 1790 de maneira planejada, arborizada e boa para caminhar. Impossível se perder, graças às ruas paralelas que seguem um prático esquema de letras e números. Elas são cortadas por avenidas em diagonal, com nomes de outros estados americanos. Em pouco tempo você se localiza e passa a “dominar” o mapa. O melhor ponto de partida para um tour é o The Mall – um dos maiores parques urbanos do mundo. Ele é ladeado pelos mais emblemáticos monumentos e edifícios da capital. Numa das pontas está o Capitólio, sede do poder legislativo americano. Construído em etapas, a partir de 1793, ele exibe sua inconfundível cúpula de 88 metros de altura, que se tornou um símbolo da nação. Pouca gente sabe, mas o arquiteto que projetou a obra, William Thornton, inspirou--se na fachada leste do Museu do Louvre e também no Panteão de Roma. A construção, porém, levou tanto tempo para ser concluída que as mudanças pelo caminho acabaram diminuindo a semelhança com os célebres edifícios europeus.

Na outra ponta do The Mall resplandece o Lincoln Memorial, monumento em homenagem ao presidente Abraham Lincoln que se tornou palco das mais dramáticas manifestações do país. Foi lá que, em 1963, cerca de 25 mil pessoas ouviram Martin Luther King proferir seu memorável discurso I Have a Dream (Eu Tenho um Sonho) – um marco na luta pelos direitos civis. Já no meio do The Mall desponta o Monumento a Washington, obelisco de quase 170 metros de altura finalizado em 1885 – na época, era a edificação mais alta do mundo, mas o título só durou quatro anos, até a inauguração da Torre Eiffel em Paris. No entorno da praça há outros pontos notáveis, como o Memorial a Thomas Jefferson, a Biblioteca do Congresso, o Federal Reserve (o Banco Central) e, claro, a Casa Branca – sede do governo.

Mas vale a explicação sobre alguns desses locais: caminhar para vê-los e fotografá-los é quase uma obrigação. Entrar neles, no entanto, pode não valer a pena. A Casa Branca, por exemplo, só aceita visitantes com hora marcada – e há uma “fila” que às vezes chega a seis meses de espera.

O Monumento a Washington também fica aberto ao público. Do alto dele, tem-se uma incrível vista da cidade e dos arredores, sobretudo do Rio Potomac. Um elevador leva até o topo, mas quem tiver fôlego pode escolher a escadaria de 897 degraus. A entrada é gratuita e os ingressos começam a ser distribuídos às 8h30. Em alguns dias da alta temporada, no entanto, podem se formar grandes filas e não haver ingressos suficientes. Por isso, é uma boa ideia reservar online, com algumas semanas de antecedência.

Museus inigualáveis
Se preferir, aprecie por fora os marcos históricos imortalizados nas centenas de filmes que usam a metrópole como cenário. Entre eles, sucessos como Inimigo do Estado, A Lenda do Tesouro Perdido e a série de TV The West Wing. A satisfação será garantida da mesma forma. Os museus, por outro lado, estão à inteira disposição para quem quer visitá-los por dentro – e, nesse caso, vale muito a pena. A maioria tem entrada gratuita e há alternativas para todos os gostos. Imperdível desbravar pelo menos alguns dos 19 que integram o Instituto Smithsonian. Mais de 30 milhões de turistas exploraram o complexo no ano passado. Pudera: somadas, as coleções do Smithsonian possuem 137 milhões de objetos. Abrangem o mundo inteiro e toda a história da Humanidade – de um fóssil de 3,5 bilhões de anos até naves espaciais.



No Air & Space Museum, por exemplo, as vedetes são o ônibus espacial Enterprise e o bombardeiro Enola Gay, que lançou a bomba de Hiroshima, na Segunda Guerra Mundial. Está em cartaz ainda uma exposição sobre os 50 anos das viagens tripuladas ao espaço. Ela vai até 2013. Já na Portrait Gallery, fotos e relatos das aventuras da aviadora Amelia Earhart – primeira mulher a cruzar o Atlântico pilotando – empolgam os visitantes.

Enquanto no Museu de História Natural há vários pontos altos, como a sala de geologia (onde fica o célebre diamante gigante Hope, de 45 quilates), há também a mostra chamada “Titanoboa, a Serpente-Monstro”, que vem surpreendendo a todos (para não dizer “aterrorizando”’). A loja do museu é uma atração à parte. As crianças têm uma grande área só para elas, com brinquedos, animais de pelúcia (de cobras a dinossauros) e jogos. Os fãs de arte podem se refestelar na National Gallery of Art.

Dividida em dois enormes edifícios, ela abriga uma das mais valorosas coleções do planeta, com trabalhos de Picasso, Matisse, Monet, Van Gogh, Jackson Pollock, Roy Lichtenstein, Andy Warhol e Miró. Sem contar as famosas esculturas de bailarinas de Edgar Degas e uma infinidade de tesouros clássicos e modernos. Mais uma vez, tudo com entrada gratuita.



Para a criançada, há o National Zoo (que faz parte do Smithsonian, mas fica mais ao norte da cidade). O zoológico se celebrizou pelos seus pandas gigantes e, recentemente, foi manchete dos jornais graças a ilustres novos moradores: dois filhotinhos de guepardo – o animal mais rápido que existe. E mesmo fora do Instituto Smithsonian você acha um sem fim de atrações inusitadas.

Uma delas é o International Spy Museum, museu dedicado ao mundo dos agentes secretos – tudo a ver com a cidade. Dá para aprender sobre métodos de espionagem desde os tempos do Império Romano até a Guerra Fria. Além disso, o museu oferece atividades divertidas, como uma brincadeira em que o visitante assume uma identidade secreta e realiza uma pequena missão. E pasme: os curadores do museu são ex-espiões de verdade, aposentados da CIA.

Um pouco mais “sério” é o Newseum – que conta a história do jornalismo de forma instigante. Algumas das fotos mais incríveis já publicadas em jornais e revistas estão no acervo de imagens vencedoras do Prêmio Pulitzer. E muitos se emocionam ao trilhar a ala que homenageia mais de dois mil jornalistas mortos no exercício da profissão – inclusive o brasileiro Tim Lopes.

Beleza americana
Cansou de museus? Washington se revela igualmente encantadora em seus bairros, cada qual com uma vocação para agradar aos turistas – começando por Downtown. O centro é onde ficam os hotéis mais sofisticados e restaurantes de gabarito. Lugares como o Willard Intercontinental, um ícone da hotelaria internacional, que atrai diplomatas e homens de negócios desde o século 19 e fica a dois quarteirões da Casa Branca. Recentemente renovado, guardou a classe dos tempos antigos na decoração e no treinamento dos funcionários. Mesmo que você não queira despender US$ 315 por dia para se hospedar ali, vale a pena dar uma passada para conhecer.

Outro bairro que vale a viagem é Dupont Circle, ao norte, a face boêmia de Washington. Próximo à chamada Embassy Row (onde ficam de fato muitas embaixadas de diversos países), as ruas são repletas de ótimas livrarias (algumas 24 horas), galerias de arte, baladas para curtir noite adentro. Os restaurantes costumam ser bem descolados – como o Hank’s Oyster Bar, que arrebanhou ao longo dos anos uma legião de fãs. Isso graças às suas ostras saborosas e ao curioso sanduíche de lagosta – algo que ninguém pode deixar de experimentar.

Tão bacana quanto Dupont Circle é o distrito de Capitol Hill, na zona leste da capital. Com suas casinhas de tijolos de dois andares e ruas cheias de árvores alinhadas, o bairro atrai tanto pelas igrejas centenárias quanto pelo colorido e instigante Eastern Market. Dividido em boxes que vendem todo tipo de ingrediente, especiaria e alimento, esse antigo mercado de 1873 simboliza hoje em dia a nova vocação gastronômica da cidade, que cada vez mais se gaba de ter excelentes chefs de cozinha.

Por sinal, depois de provar umas frutas no mercado e dar um giro pela feira de antiguidades colada a ele, a pedida é experimentar um dos muitos restaurantes na região da 8th Street com a Pennsylvania Avenue. Dica: o Matchbox é o mais perfeito reduto da chamada “New American Cuisine”. Isso quer dizer um cardápio de comidas aparentemente populares, como pizzas e sanduíches, mas preparadas de modo inventivo e sofisticado. Um exemplo? O sanduíche “Matchbox Cubano”, que leva carne de porco assada na erva-doce, queijo gruyere e maionese dijon. E se o charme de Capitol Hill não for suficiente, talvez seja o caso de desvendar Georgetown, o mais encantador dos bairros de Washington.

A área, que se desenvolveu na era colonial, é lotada de atrações para ver e saborear. A Old Stone House, mansão que se mantém em pé desde 1765, revela aos visitantes como era viver na capital nos tempos em que o país era uma simples colônia britânica. Já a Georgetown Cupcake, lojinha que se tornou famosa pelos bolinhos saborosíssimos (especialmente o redvelvet, de massa avermelhada), é tão charmosa que virou tema de um reality show na TV. O programa DC Cupcakes, apresentado no Brasil pelo canal Fox Life, mostra o dia a dia de uma doceria em que cada quitute é uma obra de arte.

Georgetown congrega também hotéis, pubs e restaurantes de todo tipo e influência, dos mais caros aos mais populares. O grande chamariz, porém, são as lojas de marcas internacionalmente conhecidas, como GAP, Zara, Apple Store, UrbanOutfitters, Ralph Lauren, Adidas e o shopping Storesat Georgetown Park (tudo entre as ruas M e N e a Wisconsin Avenue). Essa pegada eclética faz o bairro lotar nos finais de semana.

Quem prefere fugir desse agito todo tem uma excelente alternativa no Waterfront Park, a área verde que dá de frente para o rio Potomac, já na divisa com o estado vizinho da Virginia. Repleta de alamedas e áreas de piquenique, ela virou um refúgio de paz, onde não raro os próprios congressistas aparecem para esfriar a cabeça após os debates acalorados no Congresso.

Melhor ainda é o Botanic Gardens – o mais antigo jardim botânico dos Estados Unidos. Sua principal atração é a estufa envidraçada com um domo de 28 metros de altura, que abriga uma incrível diversidade de plantas – de orquídeas a espécies raras do deserto. Aliás, há ambientes inteiros simulando florestas e um setor só para crianças, onde os pequenos podem tocar, cheirar, pegar e até plantar vegetais variados.

Se em novembro a cidade ficará em evidência graças à eleição, saiba que em dezembro, durante as festas de fim de ano, ela brilhará ainda mais. Literalmente: ganhará uma decoração pública especial que, com a neve, promete deixar o cenário mais encantador. E nos meses seguintes sediará eventos como o Dia de Martin Luther King (21 de janeiro) – que coincidirá com a posse do novo presidente – e o Festival das Cerejeiras (em abril), quando as árvores doadas pelos japoneses há mais de cem anos entram em um êxtase florido. Washington, como se pode notar, é candidata a destino de viagem não apenas em 2012, mas também nos próximos anos.

A pé, de bike ou de segway?
Pedestres e ciclistas têm vez em Washington, uma cidade plana e onde os motoristas, em geral, são educados. Por isso, agências de aluguel de bicicletas pipocam por todo lado. Não quer fazer esforço? Tudo bem, a nova onda é o segway – aquela espécie de patinete elétrico. Há diversos tours guiados. Os mais procurados são aqueles que percorrem casas e prédios supostamente assombrados. Isso para não falar do passeio pelos locais citados no best-seller O Símbolo Perdido, do escritor Dan Brown, autor de O Código Da Vinci. Já é um sucesso desde o lançamento do livro, em 2009, mas deverá ficar ainda mais concorrido com a chegada do filme, que será rodado em 2013, com Tom Hanks no papel principal.

Pode não parecer, mas Washington é, sim, uma cidade para visitar em família. O fato de a maior parte das atrações ser gratuita já é uma ajuda e tanto para quem viaja com os filhos. E os arredores também prezam por esse público. O parque de diversões Six Flaggs America, em Mitchellville, é um dos mais bacanas do país. Fica a 30 km do centro e possui nada menos que sete montanhasrussas e outras cem atrações para a molecada. Em Bethesda, o GlenEcho Park é mais educativo e mais retrô, com um carrossel de 50 anos e eventos de dança e teatro de marionetes. Isso garante encantamento igualmente para os mais velhos.

Um pouco mais distante, a quase uma hora de carro, Annapolis cai como uma luva para passeios de um dia. Lugarejo colonial, ela fica à beira-mar e preserva a maioria de suas construções dos séculos 17 e 18. O charme exala dos elegantes restaurantes especializados em frutos do mar, das lojinhas de artesanato e dos passeios de bicicleta em meio ao casario colorido. Para os fãs das compras, a dica é ir ao Potomac Mills Outlet Mall, na cidadezinha de Prince William, a 40 quilômetros do centro. Prepare-se para passar um dia inteiro lá: é um dos maiores shoppings de desconto do país, com 220 lojas de marcas famosas, além de cinemas e área de alimentação.


SERVIÇOS
Moeda | A moeda oficial dos EUA é o dólar (US$). Um dólar equivale a R$ 2,03 (até o fechamento desta edição).

Fuso Horário | Washington tem uma hora a menos em relação ao horário de Brasília.

Como Ligar | Para telefonar para o Brasil use 11 + 55 + código da cidade + telefone. Para ligações a cobrar, disque 1 800 344-1055 e siga as instruções em português.

Clima | A capital americana tem estações bem definidas durante o ano. No inverno, de dezembro a começo de março, a temperatura fica entre 0 ºC e 6 ºC, com neve.

Fique Esperto | Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, ficou muito mais complicado circular em edifícios públicos. Assim, leve consigo apenas itens mais importantes e não mochilas lotadas de coisas. Isso economiza tempo na revista a cada entrada de museu ou monumento histórico.

2 comentários:

  1. Adorei Flávia! Perfeito para fazer com as crianças, vai para minha listinha (ou listona :-) )

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  2. Eu vou com a molecadinha agora em julho, Simone. Te conto se resolverem me abandonar e fixar residência. :-)

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