sexta-feira, 27 de maio de 2011

Vai mesmo, sem vergonha!

O que cada um de nós faz ao viajar, fica na viagem. Mentira, não fica. Diversos momentos ficam só na memória, mas muitos outros são devidamente fotografados, filmados, despejados nos álbuns da internet... E aí tem sempre a patrulha que vem e crava "ai, não acredito que você, um homem desse tamanho, foi pra Disney tirar foto com a Branca de Neve?!". Deixa o cara, por favor? Tem programa que se deve fazer, sim, mesmo que seja um clichê embaraçoso.

E mesmo que seja mico, que seja caro, que seja demorado. Se é do seu gosto, se estava no seu sonho, faça mesmo. Circular pelos canais de Veneza, por exemplo, é passeio que custa muito. Quando o gondoleiro de chapéu engraçado dá o preço, a sensação é de um lindo punhal italiano atravessando seu pulmão (dada a falta de ar causada pelo valor). Há quem diga, inclusive, que além de caro é meio ridículo. Ficar lá, sentado naquele banco de chenile meio gasto com um sujeito remando e um milhão de turistas nas margens olhando pra sua cara... É, pode ser tudo isso mesmo. Mas também é algo que fica impregnado na alma pra sempre.

O mesmo vale para os passeios de carruagem pelo Central Park. Calculo que, hoje, um tour de meia horinha acabe saindo por uns US$ 35. Caro? Caríssimo - ainda mais sabendo que meia hora passa como um tiro e que os cavalos... bem, cheiram a cavalo. Ainda assim, experimente colocar seu filho, sobrinho ou irmãozinho nessa roubada. Eles surtam de alegria por estar circulando por aquela cidade imensa a bordo de uma carrocinha toda rococó! Vale cada segundo.

Posso dizer que os passeios-clichê costumam atingir em cheio, principalmente, o turista com mais idade. Quando a gente tem 20, 25 anos, acha tudo isso uma cretinice. Espera mais um tempinho e você vai ver... Subir até o cucuruto da Torre Eiffel não vai mais parecer um calvário, e sim o sonho mais brilhante. Tirar foto no morro da Urca com o famoso bondinho de fundo não vai parecer estúpido, e sim uma diversão ímpar. É que, conforme os anos avançam, as pessoas ficam mais sinceras consigo mesmas - e estão pouco se lixando pro que a molecada vai pensar.

O negócio é simplesmente fazer aquilo que a mente e o coração sempre quiseram fazer, independente da opinião alheia. Quando fui para Amsterdã, muitos anos atrás, minha mãe estava junto. Ela fincou pé em dois programas: ir conhecer os moinhos (os três que sobraram, nos arredores da capital holandesa) e fazer um passeio de barco pelos canais. Eu achei aquilo mei brega, vou ser honesta. E depois? Depois lá estava eu, deslumbrada com a meiguice dos moinhos e fazendo uma genuína cara feliz pra foto dentro do barquinho. Fazer o quê? O clichê só é clichê porque seus méritos o levaram a isso, acho.

Então se no próximo destino você quiser subir até o topo do Empire State, vai nessa. A fila é escrota mesmo e custa os tubos (e, além disso, subir o Rockfeller Center é mais rápido, barato e... tem vista pro Empire State!). Mas se é do seu agrado, vai nessa. Se é do seu agrado, pague e curta um giro pela London Eye; se é do seu agrado, ignore o povo e vá mergulhar com os botos em Manaus; se é do seu agrado, faça pose com a Beyoncé no museu de cera! Quem sabe quando haverá outra chance de ser óbvio e ficar contente com isso?


É divertido, sim. E vê se não enche?

4 comentários:

  1. Opinião alheia é como roupa, só aceito se me servir e me agradar. Quando voltarem a te olhar na gôndola, acene e ponha uma trilha da premiação do Oscar no MP3.

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  2. Muito gostoso de ler, Flávia. Parabéns pelo blog.

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  3. Brigada, Ju! Mas isso não elimina nosso encontro em breve, hein? Falar de viagem ao vivo é sempre mais gotoso. ;-]

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  4. Adorei o texto! É bem isso mesmo. Tenho que confessar que sou louco pela Bridge of Sighs de Cambridge. Pode não ser clichê, mas sei que é meio brega. Mas, ah, o que eu não faria só pra fotografar o rio Cam através daqueles caixilhos...

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