segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Separado ou tudo junto?

Tem muita gente que faz coisas que eu admiro - como aqueles que sempre dão bons conselhos, aqueles que se lançam no trabalho voluntário e aqueles que sabem tricotar. No âmbito das viagens, eu admiro muito mesmo as pessoas que sabem viajar sozinhas. Porque essa é uma ciência profunda.

Viajar sozinho implica em muitas, muitas variáveis. Sim, tem a parte de jogar a mochila nos ombros sem olhar pra trás e não precisar ficar decidindo nada com outro alguém. Isso não implica variável nenhuma - é seguir o próprio gosto e fim de papo. Mas tem o restante.

Primeiro, tem a segurança. Viajar sem mais alguém problematiza, por exemplo, que a gente passe mal e seja levado pros doutores por alguém que não conhecemos ou confiamos. E se o sujeito está lá, infando o peito com o vento que sopra nas florestas da Costa Rica, e tem um súbito desmaio com a brisa cheia de saúde? Quem vai arrastar o desgramado pra ser visto por um autêntico curandeiro autodidata? E se, numa dessas, aplicam unguento de gengibre onde era pra aplicar pasta de babosa?

Sério, o viajante solitário precisa se precaver. Ter um bom seguro-saúde, deixar os contatos de todos os pontos de parada com um familiar e ainda pensar bem se vai se jogar em passeios arrojados e/ou sair à noite. Sim, porque sair à noite sozinho pode ser mais perigoso do que descer as cataratas num barril. Ficar lá na mesinha bebericando e olhando em volta, fazendo contato visual com estranhos e esperando que a porção de fritas não seja grande demais pra um... Dureza.

Tem ainda aquele caso clássico de estar parado em frente à Golden Gate, linda e vermelhona, conhecendo cada metro dela a bordo de uma bicicleta descolada... e não ter pra quem gritar "isso é legal demais!!". Já fiz algumas viagens a trabalho, sozinha, nas quais tive a chance de dar escapadas turísticas. Foi um pouco melancólico pra mim. Tomar aquele café incrível em Buenos Aires e não ter com quem comentar; estar no espetacular farol da Ilha do Mel, vendo AQUELE por-do-sol, e não ter quem abraçar; estar presa no quarto do hotel curitibano por conta da chuva e não ter quem ouvisse todos os xingamentos.

Sendo justa, eu já escutei muitos relatos de amigos que sempre viajam sozinhos e não vêem nada de ruim nisso. A jogada parece ser boa mesmo: ao viajar sozinho, tem-se a chance de fazer novos amigos - nem que seja de modo compulsório; de falar outra língua o tempo todo e se achar sendo muito bem entendido enquanto aprende novas palavras; de desbravar lugares onde uma suposta companhia, talvez, não quisesse ir. Comer o que quiser, parar a qualquer hora, dormir sem ser sacudido por um traste que desperta às 7h e tem animação de monitor de acampamento...

Já descobri que quem viaja sozinho pode, por exemplo, se sentir muito melhor em um alguergue classe-média do que num super hotel de luxo. O albergue, que tem a característica de ser passagem de gente de todo canto, une mais os visitantes e propicia até formar um grupo pra passear junto. No hotelzão... bom, você pode sentar no lobby e puxar conversa, mas também pode acabar levando um spray de pimenta na cara por causa disso.

O diabo é que viajar sozinho, muitas vezes, não é opção - é a falta dela. A pessoa até queria uma companhia, mas cadê achar um desalmado que esqueça tudo e embarque pra 12 dias de trekking na Mongólia? Deixar os sonhos de lado, porém, não cabe: muito melhor estar sozinho naquela vila de pescadores que a gente desejou tanto ver do que acompanhado em um resort com cara de Projac.

Ao viajar em vôo solo é preciso ter apenas uma coisa na cabeça: estar sozinho muitas vezes pode ser relaxante e bom pro descanso da alma, enquanto estar acompanhado não é garantia de bons momentos. Fazendo uma pesquisa, garanto que as viagens nunca são estragadas por tempo ruim ou mala extraviada - e sim por estar com alguém insuportável ao lado. A chuva a gente vence usando capa; já com o mala-sem-alça, não tem capa de invisibilidade que dê jeito.

Sendo assim, é bom avaliar muito bem a escolha de ir passear pelo mundo em solitário. Fazer uma lista de prós e contras antes de decidir convidar alguém ou de botar o pé na estrada sem um outro alguém. E aí é curtir uma viagem com alegria plena de estar junto ou separado.



3 comentários:

  1. é.. viajar sozinho tem realmente seus prós e contras.
    Mas... nada melhor do que vc poder andar sem ngm te perturbando ou ngm escolhendo o que vai fazer. E nada melhor do que ficar num quarto de um super hotel descansando ou na pérgula da piscina relaxando. e olha.... sempre aparece uma alma bendita quando queremos conversar um pouco.
    Experiência própria!!!!

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  2. Se for deixar por minha conta, sigo um roteiro rígido e não dou a menor importância para entretenimentos, até porque é cousa que não me encanta. Se for deixar só por minha conta, não viajo a lazer, então preciso de uma companhia, mas precisa ter bastante sintonia comigo.

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  3. Tu escreve bem heim guria!!
    Curti muito a foto tb..
    Sou fã desde os tempos em que vc respondia pelo nome de "wonka". hehe
    Abraços.
    Carlos!

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